quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
o mel é a um tempo amargo e doce
O humano não existe, é dito.
Queremos saber se está nele o monstro, ser homem e mulher, ser mãe e filhos, trazer em si toda a fúria dos desertos.
Dizemos que o gigante está em nós.
A mão que fia o mais que precioso fino fio, entrega a lista dos que vão para o estígio rio.
É a mão do homem.
domingo, 4 de janeiro de 2009
por quê o Pedro Bial tem aqueles dentes?
Desenho de Roberval Salles
sim porque TODO MUNDO na tv tem os dentes não brancos mas reluzentes de alvura na tv tudo brilha e cheira a novo a não ser quando entrevistam os tais “populares” daí que a pergunta poderia ser más bien para quê os mantém assim e o mais irritante é saber ou antecipar que a resposta é do tipo carta roubada está literal e constantemente na nossa cara e no entanto esquecemos por descuido preguiça lassidão que aderem ao pensamento como a velhice se deposita na pele nos ossos e articulações e progressivamente incapacita para a conversação com as crianças aliás estas talvez respondessem com a sabedoria fabular é para te comer melhor mas então eles os dentes não seriam de Pedro mas do Lobo e dentes de lobo são pontiagudos separados e bem brancos em contraste com o corpo o pêlo e a floresta negros é sempre a Floresta Negra nas ilustrações ou aquelas fieiras de dentes do cartaz de Tubarão jaws não não são antes dentes de rato irregulares sujos pequenos mas singularmente poderosos os dentes dos famosos são grandes e limpos como a nos recordar que para chegar lá eles os bacanas precisaram morder muito aniquilar muitos então percebe-se o alcance da mensagem é de comer gente e ser comido por gente que se trata canibalismo é a palavra já o canibalismo-ato tem a ver com quebrar para conhecer estraçalhar para conservar ambivalência com o amor devorado ódio ao objeto ao laço à relação àquilo àqueles que amamos filiação e identidade alimentação incorporação e despedaçamento estaremos condenados a destruir tudo que amamos outra possibilidade seria pensar num certo charme europeu europeus têm dentes péssimos é fato sabido bem como os acadêmicos mas nestes o buraco é mais pra dentro o bafo intelectuais acadêmicos têm bafão é outro clichê na certa porque comem muita coisa ruim muita gente também boa ou ruim os dentes ficam sujos devido aos restos aos detritos que a comensalidade indiscriminada acarreta essa história de viver com podreiras na boca que diz masca expele engole tritura regurgita cospe mói deglute rilha engulha o que não temos coragem de encarar nem em posto de estrada tresnoitados de cansaço e sono e impaciência e fome rodoviária de chegar ao destino o ser humano é bastante incoerente e talvez seja isso que o Bial está berrando no vídeo nem tudo fecha nem tudo é perfeito o que eu acredito não bate com que eu digo e bate menos ainda com o que eu faço os humanos não podem ser inteiramente coerentes sob risco de desabamento central do ser o equilíbrio a plenitude a justiça a harmonia são fatalmente cansativos como a ilha de Circe desperta a nostalgia da ilha familiar imperfeita dos rancores e intrigas do ódio aos seus ao qual sempre retornamos desterrados na própria casa édipos odisseus já que o que está perdido volta como fantasma desde que se tenha fodido tudo antes e desta forma o CANIBAL MELANCÓLICO é um assassino do tesouro que custodia daquilo que vai manter presente a partir da ausência que então não é mais perda mas retorno alucinação compreensão do outro do diferente desde que o possa matar comer porque na tv só me interessa o que não é meu só existo onde não estou quase posso ouvi-lo dizendo lá a verdadeira vida lá na telinha dou carteirada trabalho na Grobo no logo me espia um olho ou globo dentro de uma tela com outro olho-globo dentro portanto sou prisioneiro do espelho mas o espelho também é meu prisioneiro “fora rede globo o povo não é bobo” e naquele instante apostava sinceramente numa vida num país melhor e por isso a emissora do plim-plim sacou a levada do Bial a espiadinha básica não adianta esconder a vocação desse negócio é mostrar escancarar tudo sim desde que somos modernos vivemos aglomerados em massas desde a aurora da humanidade socializamos em torno do espetáculo a fala encantatória da poesia vidiota Bial é o cara o oficiante do casamento sem nós do exibicionista com o voyeur um fantástico show da cena cínica what you see is what you see meu sonho é o seu o seu céu é o meu eu sonho o que você quiser que sonhe o Olho pode ser a boca-cloaca pública testemunha do corpo no qual vivo como recheio imagem que me presentifica uma imagem é o que como com os olhos e absorvo com os dentes de uma barriga vazia de sentidos we the people na multidão não há só anulação das diferenças em benefício de um líder o que aconteceu é que os líderes deixaram de fazer diferença eu dizia que o Bial tem dentes de rato e o rato é o Delator no que insisto a nossa relação doentia com as palavras dá-se toda e nenhuma atenção a elas por exemplo os dentes e o jornalista escritor cineasta não estão lá por acaso o Grande Irmão não é o Grande Pai que nos fez à Sua imagem e semelhança o Grande Irmão é a soma imaginária das dessemelhanças do semblante de cada um nós o fizemos e quisemos assim como é e ele só faz o que mandamos que faça Pedro Bial Hebe Camargo Sílvio Santos não são pessoas como nós ELES SÃO AS NOSSAS PESSOAS somadas individuadas empilhadas transformadas aglutinadas caras que odiamos amar bocas que amamos odiar a democracia abole as aparências decentes da representatividade na democracia os representantes são pássaros na gaiola de ouro da representação atores à deriva numa escolho móvel na pós-modernidade o Outro é o travesti do Mesmo na pós-modernidade o rei é um escravo que sente saudades da guilhotina única liberdade que lhe resta nela o povo opressor é livre e soberano para comer quem quiser
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