segunda-feira, 27 de junho de 2011

sem título

há no mundo um mundo
medra imerso em medo
agora
que voltei da volta ao mundo
minto
revolto ensombrado durmo
bruma adentro
de meias

entretanto movimento a mente estaca
entre
tempo entrante de mor
sorte ânsia & espanto
enfim um mar
a que sempre (diminuto)
volto

porque não vento nem chovo
de fato
nunca imerso impenso
desperto
o amor que o tempo des
dobra

dou de ombros consulto
oráculos
de fora a fora finjo
fujo da obra inverso
semi névoo sem tamanho nem
tento

mas sigo ainda sendo
cego
ovas mortas escutando
junto
ao muro olhos de pano
apostos atento a
mirarte

pois que um mundo tão
sem vôo
vou em frente enfrento
ar
onde ondas ondeiam e o mar sempre
volta

sexta-feira, 24 de junho de 2011

DECIDIDAMENTE





















Decididamente
eu não estou feliz.


Com o pouco leite

que a vaca da vida
me deu por direito.

Decididamente
eu quero muito mais.

Eu quero
ter um carro
e uma casa decente.

E ter coisas boas,

como roupas novas
e caras e quentes, e lindas e tudo.




Eu quero ter saúde,
dentes
e
cabelos,
ir à manicure, ao cabelereiro: quero cheirar bem.



E que ninguém me venha com aquele papinho
manjado
e cretino
do Homem Feliz.


Decididamente.






foto: Dólares

domingo, 19 de junho de 2011

Ratazanas Humanas



Momentos de tremor.


Onze horas da noite. Decidimos não ir à Festa do Boi no Morro do Querosene. Dormimos.


Um barulho na casa ao lado, que está vazia há anos. Subo à laje e espero os olhos se acostumarem ao escuro.


Duas ratazanas humanas, esguias e ágeis, tentando pular o muro do jardim da minha casa.


Naquele ponto o alfeneiro do lado de cá se apóia na goiabeira do quintal do falecido vizinho. Um muro, uma tela e uma cerca viva de cafezeiros e sete-léguas dividem as casas.


Gritei feito louco lá de cima. As ratazanas escaparam para a rua pulando o portão da casa abandonada como se ele não existisse.


Sumiram pelas vielas que cortam os longos quarteirões do bairro. A polícia militar chegou em vinte minutos.


Tem acontecido muito na região: invasão de casas, estupros, roleta-russa, enfim, oportunidades únicas de vivenciar em primeira mão um conto de Rubem Braga.


Atenção: isto não é ficção.


É apenas um país que vai pra frente, praticando a justiça dos ricos, empurrando com a barriga o trânsito assassino, varrendo pra baixo do tapete terroristas italianos, deputados procurados pela Interpol, senadores que censuram jornais, sindicatos de ladrões e mafiosos que se tornam patrimônio nacional.


Boa sorte a todos.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Revisita


O tempo parou
E eu voltei para beber
Teus muros arcos tijolos
Teus velhos mestres curvados
Teus anfiteatros
A alegria taberneira dos estudantes
O livreiro, agora velho, magro e de chapéu
Tua solenidade, oculta pela aparência moderna
Mostra a cara no portão de ferro trabalhado
Na cara de ferro dos seguranças
Nas enfermarias compungidas
Procurei pelo adolescente perdido
Que errava pelos corredores
Corria, corria, corria
Mas não chegava nunca
Porque não tinha aonde ir
Mas ele não estava lá
Não havia com quem fazer as pazes
Havia o café na cantina vazia
E um tempo que não volta
E não morre

sábado, 11 de junho de 2011

por que se mata o poeta?

Árdua entre as mais tarefas

que impõe a vida continuar

vivo não é fácil e requer

experiência

ninguém pediu para nascer

supostamente

por que então o poeta pede

para sair?

desce do trem e da vida antes

do fim da festa do pôr

do sol do inverno e da

colheita

o estouvado gesto é claro

erro crasso e necessário

a mim a vocês ao camponês

e ao operário

o poeta surfa a onda na velocidade

da luz

um vacilo e ele perde todos os espelhos

torna-se irremediável solitariamente

contrário

tragado pelo caldo primitivo nas entranhas

do Grande Buraco

em 1925 Siérguei Iessiênin corta os pulsos

escreve versos com sangue e

se enforca

grita Maiakovski contra os "versos velhos no velório" do jovem

porque somos chamados a sustentar o corpo imenso

do morto

já que sem poetas estamos um pouco menos

despertos

menos atentos à barulheira que faz a poesia

em nossos sentidos

os suicidas sempre deixam uma mensagem

em código

escrita numa língua antiga e indecifrável

a qual esquecemos

mas que afinal lembramos uma última vez

cedo ou tarde.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Medusa Obtusa (arte é legal, artista que é um saco: eumeu & meueu)




seu olhar

paralisa

meu

corpo

eu

me assento

no que carece

desespera da

mente de

apoio

eu