sábado, 12 de setembro de 2015

a menina sentada (1)




          Cheguei em casa meio cedo. Tinha um monte de outras coisas a fazer naquela tarde, mas combinei com a minha irmã e ela já estava lá me esperando. Estava muito cansada, como ultimamente sempre estou, aliás, nos últimos tempos não venho sentindo nada além disso. Cansaço.
          — Só preciso de uma meia horinha de sono.
          — Você está pálida, tudo bem?
          — Um pouco de tontura, vai passar.
          Só sabia que precisava dormir um pouco. Descansar.
          A cabeça parecia aumentar de tamanho, dilatava e encolhia feito um balão, pesando. Abaixei as persianas, fechei a porta do quarto e deitei vestida sobre a cama. Um zumbido fino persistia no ouvido. Dormi de repente um sono como de tardes chuvosas, como antigamente, quando eu sentia mais do que pensava.
          Mas não chovia, lembro da minha irmã espiando dentro do quarto e dizendo algo sem que pudesse entender as palavras. Era já o mundo do sono e seus abismos sem explicação. A porta se fechou novamente, uma onda de alívio se espalhou a partir do meu peito.
          Enfim, só.
          — Uma hora deu. Você tá bem?
          Levantei-me, alisei a roupa, ajeitei os cabelos, esfreguei o rosto sentada na beira da cama.
          — Já vou. Tô melhor, obrigada.
          O barulho de um gaveteiro caindo.
          Não havia necessidade de acender a luz, conhecia todos os caminhos daquele cômodo. Caminhei no escuro até à porta, abri, corri os olhos pela sala vazia acostumando com a claridade. Ao fechar a porta atrás de mim, reparei que ainda estava na cama.
          Deitada.


          

2 comentários:

Débora Beriteli disse...

Já estava sentindo falta desses seus escritos!
����

José Doutel Coroado disse...

Caro filipe com i,
Bom!
Abs

ps: o retorno às lides artísticas foi mesmo bom!