sexta-feira, 9 de outubro de 2015

vida de espião




desço a rua no fluxo
de outros flanando em fim de tarde
aceito tudo que não sou
rogo lágrimas à multitude
ao grupo de skatistas furiosos
chego a amar
o mendigo tatuado de mendigo
carrego coisas em mim
que ainda não sei perguntar
a atriz me oferece mangas da cesta que carrega
recuso
ela me dá um guardanapo de papel
escrito a caneta rosa em letra de forma:
"No Brasil, o número de estupros
supera o de homicídios dolosos"
então penso que o estupro começou
há muito tempo
tento ser alguém e estar vivo
esqueci o sentido da vida
e quando o reencontrei não cabia
no biscoito da sorte chinês
acho que já deveria saber que uma coisa
não leva necessariamente à outra
até porque hoje não há mais missões
só nos resta a vida doméstica
li em algum lugar que as pessoas felizes
não se comparam com as outras
nem se culpam pelo que não podem
resolver
o que eu mais queria era ser feliz
sem ser babaca
e morrer um dia despido do
medo
ou daquela sensação de ter desistido
da parte mais importante
de todas


3 comentários:

Anônimo disse...

Se existe verdade é a de nunca desistirmos de quase nada. Tédio e rotinas nos garantem segurança pra seguir e sonhar... Pequenos retratos da vida flutuam diante dos dias como promessas fantasmas, como aqueles pontos de luz e poeira que quando crianças caçavamos em frestas de luz atrás das portas. Nunca apreendiamos a poeira luminosa mas nunca perdiamos a fé na caçada. Assim viramos poetas e portas.

Anônimo disse...

Como ser feliz sem o auto-engano

Dalva M. Ferreira disse...

Ser feliz. É quase que uma imposição, não se está autorizado a ser triste. Eu quero apenas o direito de ser do jeito que eu quiser! (essa é a rebelião)