domingo, 2 de janeiro de 2011

Aldeia dos 4 Montes - Cap. 23

Aldeia dos Quatro Montes




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23

Estava uma daquelas noites de arrepiar. Negra como breu! Frio de rachar!
A azáfama para os lados da escola era grande. Grandes pedaços de árvore já estavam amontoados e alguns dos mais jovens preparavam tudo para lhes chegar fogo.
Era tradição de 4 Montes fazer uma grande fogueira na noite de 31 de Dezembro. Durante a tarde, tinham ido ao monte cortar a lenha que havia de arder até ser dia. Nunca faltavam braços para esta tarefa…
Quando se fizesse noite haviam de acender a fogueira. E, aos poucos, havia de se juntar um magote de gente. Cada um traria bebidas, para si e para distribuir pelos mais chegados.
Uma gaita de beiços animaria uma qualquer dança… E não faltariam as cantorias! Conforme o calor, provocado pela fogueira e pelo álcool, fosse aumentando, algumas das cantigas seriam cada vez mais brejeiras e outras de mal-dizer. Não seria a primeira vez, nem a última, que um determinando verso provocasse um par de tabefes e uma algazarra… Depois, lá se afastavam os contendores e a coisa continuava.
Pedro e Salústrio apareceram quando já passava das onze e meia. Iam carregados com uma boa dúzia de garrafas, não faltando o espumante para rebentar ao som das doze badaladas do sino.
A Ti Joaquina nunca faltava à fogueira de fim de ano. Numa cesta trazia uns figos secos e umas nozes… Maria é que vinha mais carregada.
- Ó rapariga… Até parece que nasceste ontem! Não me inclines a caixa que lá se vai o molho dos sonhos!
Salústrio era um homem prevenido. Trouxera uns cálices que encheu de um bom vinho fino.
- Este é mesmo vinho fino. Do Douro! Não tem nada a ver com vinho do Porto… Como se no Porto se fizesse vinho!
Salústrio embirrava com aquela mania de roubarem os nomes dos melhores produtos da sua região. Sim… Porque, para ele, o facto de o vinho ser feito no Douro e o designarem como do Porto, só podia ser um roubo…
A Ti Joaquina não se deixava enredar naquelas querelas. Para ela, que apreciava a bebida, tanto se lhe dava que fosse do Douro ou do Porto. Se fosse bom…
- Homem, bote cá mais uma pinga dessa e deixe-se de tretas! Olhe prove um sonho… Ou quer um figuinho?
Ao som da gaita de beiços já alguns pares tinham dado um pé de dança. Foi, então que se abriu uma das janelas da escola e…
- Minhas senhoras e meus senhores! A aparelhagem de som de 4 Montes deseja a todos um bom fim de ano! Vamos começar!
Os mais velhos ainda torceram o nariz àquela modernice… Quando começaram a tocar as músicas que estavam na moda lá lhes foi passando a azia. Mas, rapidamente, foram contagiados pela animação dos mais novos e entrou toda a gente no bailarico.
Quando faltavam dois minutos para a meia-noite a música parou. Prepararam-se as garrafas do espumante e ao findar a última das doze badaladas, acompanhadas uma a uma com uma passa de uva, as rolhas saltaram.
- Bom Ano Novo!
Abraços e beijos, uns mais arrebatados e outros mais de circunstância, correram pelo recreio da escola.
O frio levou muita gente para junto da enorme fogueira. Caía uma geada de respeito mas ninguém parecia muito afectado.
Salústrio comia um dos sonhos da Ti Joaquina.
- Muito bons… Como sempre!
A Ti Joaquina gostava que lhe gabassem os dotes culinários.
- Ora… E o Pedro? Ele é que gosta deles…
Angélica estivera no Lar até à passagem de ano. Depois de ter desejado e recebido os votos dos residentes e das funcionárias de serviço, decidira dar uma saltada até à escola.
Mal entrara dera com os olhos em Pedro.
- Que o novo ano lhe traga muitas felicidades!
Angélica agradeceu e aceitou o convite para uma taça de espumante.
Juntaram-se a Salústrio e à Ti Joaquina. Ainda tiveram tempo de fazer um brinde ao ano que entrava antes da aparelhagem de som voltar a lançar todos para mais umas danças.
A Ti Joaquina e Salústrio gostavam de dançar. E como dançaram…
- Ai que já não aguento mais… Homem, que você hoje está com a genica toda!
Salústrio riu-se e, galantemente, deu o braço a Joaquina e afastaram-se para junto da fogueira.
- Não me divertia assim há um ror de tempo…, disse Joaquina.
Salústrio, com um cálice na mão, olhava para os pares que continuavam a rodar.
- Parece que não somos só nós que nos estamos a divertir…
Angélica e Pedro chamavam a atenção de quem apreciasse dançar. Elegantes, fluidos nos movimentos, em coordenação perfeita…
Aquela música acabou e Pedro fez uma ligeira vénia a Angélica.
- É um prazer acompanhar tão graciosa…
Maria não gostou de ver aqueles salamaleques de Pedro para Angélica.


(Estória, em capítulos, aos Domingos e Quartas)
Aviso: qualquer semelhança com nomes ou situações reais será mera coincidência... Esta é uma obra de ficção, resultado da pouca imaginação do autor.

Um comentário:

filipe com i disse...

este Pedro é um Jacinto de Thormes, está a tomar gosto pela vida do campo e por aí vai ficando; o Salústrio que abra os 2 olhos. maneiríssimo o ritmo, vou na valsa desse bailarico, toca a gaita de foles José!