sábado, 24 de setembro de 2011

Síndrome de Muichkine (parte final)

15.
            ― Como é que pode... o ponto? ― ela se aprumou, enleada-assustada com o achego dele.

            ― Pode o quê?, meu docim de girimu, e que raio de ponto que é esse? ― falava manso e ao mesmo tempo fazia avanços de polvo, encompridando sobre a menina olhares langorosos e amebentas mãos bobas.

            ― Peste! Se aquiete, seu!... É assim: uma linha a gente vê no horizonte, às vezes, aparece um triângulo desenhado na forquilha de uma árvore, mas o ponto... tipo assim, é o oposto de uma coisa, está lá, mas precisamos deixar de enxergar para ver .

            ― Mas tu gasta a cachimônia com besteira demais... olhe, a imaginação às vezes tem de pôr, às vezes de tirar, o ponto é como... humm, o buraquinho deste seu piercinzinho aqui... ― insinuou a língua marota no ouvido dela; fazia-se de professor acompanhando-lhe os estudos, embora se concentrasse em matérias para lá de extracurriculares.

            ― Com bilhões, trilhões, sei lá quantos, de pontos dá pra construir uma casa, um palácio, uma pirâmide, mas com um apenas... nada! O todo existe, as partes não... por que você e mamãe se separaram? ― voltou-se de frente para aqueles dois olhos negros em que pontos de luz brilhavam como uma noite de estrelas; aqueles olhos prometiam a glória. E também a dor.

            ― Sua mãe não entendia as responsabilidades que assumi... o caso é que foi ela quem deixou esta casa ― procurou desviar, não queria enveredar por ali ―, já eu, continuo aqui, fazendo de tudo para a sua festa de debutante ser inesquecível...

            ― Mas falam tão mal de você, da nossa família, nos jornais...

            ― Ah, que cansaço da humanidade... não dê trela pra bocas-de-maria, tudo inveja, interesses escusos, lindinha, não gaste seu tempo com a mídia golpista, este país é muito ingrato com os que se dedicam a ele ― e trabalhava por erguer-lhe a barra do vestido.

            ― Li na internet que a minha festa o senhor vai pagar com o dinheiro que falta nos hospitais e escolas... por que fazem isso com a gente? ― abaixou as pálpebras como se estivesse lisonjeada, catava fios imaginários na saia.

            ― Me deixe sugar o furinho do seu brinco, deixa, vai; você ainda é virgem, anjo meu? ― sopesou em pensamento os seios que despontavam na adolescente, tetinhas implorando para ser mordiscadas e lambidas.

            ― Oxe, logo quem devia saber mais é que pergunta... eu sou é louca de lhe dar essas confianças... ― deixou que ele enterrasse o nariz nos seus cabelos, cruzou as mãos sob as coxas, balançando os pés de nervoso.

            ― Pedir mais o quê da vida?, ficar aqui do seu ladim, beijando este queixinho de, de... Jesus amado, se Deus me dera a sua belezura, ia viver nua numa praia deserta só me beijando por todo o corpo...

            ― Páim, como que tantas pessoas lhe obedecem? ― bem quieta, um sorriso deslumbrado de dentes certinhos; de repente, agarrou-lhe a mão, a dela suada.

            ― Que boca de anjo, rostinho mais que adorado ― arremeteu aos beijos, delirando pescoço acima ― ... não é segredo nenhum, embora as pessoas esqueçam disso a toda hora, é como naquela sua história de ponto: enxergue sempre o jumento batizado por baixo da roupa, sob o adulto, vive a criança assustada e carente; por uma medalhinha, um desembargador te entrega a alma da mãe, um ministério chinfrim compra o banqueiro, todos, todos, viram índio querendo cachaça...

            ― Andei pensando, sabe, com o tempo acontece a mesma coisa: o ponto do tempo é o instante, mas ele escapole de pinote, e nada permanece, e ninguém pega uma coisa quando ela é, porque já aquele instante dela passou, e passou de novo, e de novo...

            ― Pois então, carpe diem, porque a noite é certa... ― viu que ela se contorcia na cadeira e descruzava as pernas, enlouquecido, imaginava a cena tantalizante: o fio da calcinha deslizando por aquele rego calidamente umedecido.

            ― O senhor... é feliz com a nova esposa? ― ela sabia de cor cada um dos passos da coreografia preestabelecida que viria a seguir e que sempre terminava com: chupar a estrovenga do véi babão. Até então, pode-se dizer que ele a “respeitara”, circunscrevendo seus avanços a estes rituais de “passar a lição”, mas não se iludia sobre o que a esperava daqui para a frente, afinal, aos quinze completos, já era “mulher feita”.

            Arriou as calças, descobrindo o membro caprino ― Aqui meu bem, assim... haa, assim... hmmm... cadelinha mais fofa, você é o meu anjo, perdição.

2 comentários:

José Doutel Coroado disse...

Caro Missosso,
Gostei!
..."amebentas mãos bobas." Muy bueno!
abs

filipe com i disse...

tks, atento, caro, josephus, a gente tenta um bocado, acerta umas poucas...