Talvez esteja pensando que eu sou
algum tipo de joão-bobo, que vou balangar pra cá e pra lá, chiar, bufar, e
terminar me acomodando à nova situação com um sorriso de palhaço plástico. Tá
muito enganada, nega, conosco ninguém fodosco. Essa biscate esquece que uma
coisa é tretar com um mané qualquer da quebrada, outra é mexer com quem tem
subordinados na folha de pagamento, gente às suas ordens. Expressamente pra
situações como esta é que mantenho um colega de escola trabalhando pra mim: o Pink,
o imbecil do Felício.
Vidinha
lazarenta teve o velho parça de baladas e putedos. Como esperado, tornou-se o
loser que já apontava na adolescência, mas, de quebra, a marvada vida ainda lhe
reservou um surto esquizofrênico e mais duas internações psiquiátricas. Da
turma das antigas, só eu lhe estendi a mão; dou registro em carteira mesmo ele faltando
ao serviço vez por outra. Quando passa uns períodos sem tomar as bombas que
diminuem as vozes na cabeça, e junto volta a mamar umas canjibrinas, o bicho
despiroca e sai pelado nas ruas do bairro gritando que chegou a vez da
Sociedade Alternativa.
Um
desocupado na função de faz-tudo nessas horas é uma mão na roda, botei o
Felício na cola da Raquel. Alguma explicação devia haver para uma mudança tão
repentina de atitude. Loucos e mendigos são ótimos pra ficar pasmando nos
lugares, de campana, porque em geral é isso mesmo que fazem o tempo todo ―
nada. Ninguém passa recibo.
Inocente
fui eu de não acreditar no relatório dele.
―
Porra Pink, não faz sentido nenhum esse bagulho que tu tá dizendo, velho. Parou
de novo com as pílula controlada?
―
Seguinte, mano, não somei nem subtraí, quem não gosta de jiló, come pequi.
―
Caqui o quê, fio, pequi de cu é rola! Quer dizer que a mocoronga...? Não, não
pode ser, tu confundiu as bola...
―
Aí, mano, sou só doze e meio, sou treze não. O que eu vi, eu vi!
―
Pff, doze e meio! Puta merda, isso que dá ficar batendo palma pra louco dançar.
―
Todo louco é um, a loucura é o país de um deus solitário.
―
Bom, de qualquer maneira continua zoiando. Ainda não estou convencido. Você foi
até o local e constatou?
―
Sim, Mongaguá.
Nem
duas semanas se passaram, e Dila convocou uma reunião familiar. Assunto sério.
O zum-zum-zum que rolava é que as minhas mães iam se separar. Dezessete anos
juntas. Os bate-bocas, as D.Rs. e arranca-rabos já tinham passado, agora era encarar
os fatos, e vida que segue. Mamãe estava que era só o pó, as olheiras quase lhe
chegavam ao queixo depois dos meses de insônia em que a crise viera se
arrastando. Dava uma dó danada vê-la naquele estado, mas o momento era pra
falar de business. Nessas horas, não tem pra ninguém, nunca me deixo pegar de
calça curta.
Um comentário:
Morrendo de rir! Quase "espiando" também, pra saber quem é o cabra! :)))
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