Nem
duas semanas se passaram, e Dila convocou uma reunião familiar. Assunto sério.
O zum-zum-zum que rolava é que as minhas mães iam se separar. Dezessete anos
juntas. Os bate-bocas, as DRs e arranca-rabos já tinham passado, agora era
encarar os fatos, e vida que segue. Mamãe estava que era só o pó, as olheiras
quase lhe chegavam ao queixo depois dos meses de insônia curtidos na crise terminal.
Dava uma dó danada vê-la naquele estado, mas o momento era pra falar de
business. Nessas horas, não tem pra ninguém, nunca me deixo pegar de calça
curta.
―
Resolvemos chamar pra esta reunião vocês, filhos, pra dizer que... ― mamãe não
segurou mais e abriu o chafariz. Passei o braço sobre os ombros dela.
―
Tem nada não, mãe, eu já tinha me ligado. Você vai ficar bem, não faz assim...
a família continua, nós tamo junto. Fala aí, Raquel, o que acha, você já sabia
que elas...?
Fez
que sim com a cabeça.
―
Acho que já podemos abrir este assunto, mesmo com o sofrimento que ainda causa,
porque a decisão mais dura já foi tomada ― neste ponto, Dila foi interrompida
por um longo soluço de mamãe. Sentada à direita dela, confortava-a com afagos furtivos
no braço e emprestando-lhe o lenço.
―
Você já tem onde ficar? ― decidi espicaçar logo de uma vez o carcará, quanto
mais rápido decidíssemos a parada, melhor pra minha mãe. Técnica do
esparadrapo: arranca numa puxada só.
―
Precisa dar um tapa na casa da praia, coisa de um mês, dois no máximo. Minha
aposentadoria já saiu, aí é só mudar ― Dila fazia o número da diplomata,
cozinhava o galo em banho-maria.
―
Ah, isso vocês já decidiram as duas? Estão só nos comunicando? ― meu olhar ia
da minha mãe pra Dila, e de volta. Do outro lado da roda de assentos que se
formou na sala, a minha irmã.
―
Filho, eu e a Edilamar achamos que é melhor desse jeito, fica bom pra todo
mundo.
―
Pois pra mim não tá nada bom desse jeito! A casa de Mongaguá é tão sua quanto
esta aqui, mãe, vai dar de mão beijada pra quem tá indo embora?
―
Ei, ei, calma aí rapaz, você esquece quem manteve esta casa e tudo que a sua mãe tem
nestes anos todos? Só porque agora você é o tal dos negócios, não pode apagar o
passado meu filho.
―
Minha mãe é esta daqui! Você deu a bota nela, saiu fora, não foi? Então, cada
um cada qual, você segue a sua vida, nós seguimos a nossa, mas não vem querendo
levar o que não é seu Dila ― voltei-me pro lado da minha irmã, estava lá sentadinha,
quieta, muito direita na cadeira como se isso fosse a coisa mais importante do
mundo ― Não vai abrir o bico, hem, ô mosca-morta?!
Remexeu-se
um pouco, passeou o olhar ausente em volta. Por um segundo deu a impressão de que ia
dizer alguma coisa. Mas não.
―
Pra você, tudo é muito simples, se é pra defender seus interesses, você vai pra
cima de quem for. A lei me dá direitos pelos anos que estamos juntas, e
moralmente sua mãe reconhece, pus pão e leite nesta casa sozinha muitos anos...
― Dila começava a abaixar a máscara. Prefiro.
Um comentário:
Tô seguindo! Curiosa, claro!
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