domingo, 14 de junho de 2015

Reality (3)




INT. SALA DO PSICANALISTA. NOITE.

Fumaça de charuto flutua na frente do retrato de Freud na parede.

PSICANALISTA
Você está se deixando levar pela narrativa standard do amor romântico: entre bilhões de humanos, só aquela pessoa me completa. A humanidade passou sem isso uns bons milênios.

CAUBÓI DO BBB
Vou fazer o quê?, é assim que eu sinto... Doutor, nunca me perdoarei ter deixado escapar minha metade da laranja.

PSICANALISTA
Idealizações narcísicas, meu caro. Boa parte desse seu amor obsessivo está turbinado pela culpa. São resquícios da sua ética cristã que o levam a se punir por ter fama e sucesso.

CAUBÓI DO BBB
Pois é aí que a porca tá torcendo o rabo, a fama vai passar logo, que eu já sei. Mas o pior é que só fiz merda com a grana do reality: emprestei pra amigo, investi em ações podres, quebrei numa sociedade em posto de gasolina, fora que a Receita Federal tá me cobrando uma bala.

PSICANALISTA
Ok, talvez esteja imaginando que, ao voltar a ser pobre, você reconquistará o coração enternecido da Gostosa do BBB. Pode até funcionar como enredo de novela, mas acontece que na vida real as mulheres interessantes tendem a fazer escolhas inteligentes...

CAUBÓI DO BBB
Então, doutor, acontece que tem me vindo cada vez mais esse pensamento louco: se eu me matar numa das 2 vidas que tô levando, quem sabe assim não fico com uma opção só e sossego?

PSICANALISTA
Bom, aí você executaria o desfecho clássico, morrer por amor, e seria o talk of the town por uma semana. Um pouco de barulho, e depois, silêncio eterno.

Pausa

PSICANALISTA
Ficamos por aqui hoje. Você tem que me pagar à vista, sou lacaniano.


Um comentário:

Anônimo disse...

Elementar, caro Watson.