terça-feira, 12 de abril de 2016

Red Star (8)




A tarde excelente declinava lenta e sem pressa, o calor era grande, mas não os atingia, protegidos que se encontravam sob o toldo que dava para a pradaria adjacente ao jardim. Espandongaram-se nas espreguiçadeiras de vime, um ventilador borrifava-os com bafejos ritmados de vapor de água, sentiam a gostosa sonolência do pós-almoço regado a espumante e Vino Tinto. No entanto, a tensão ficara no ar com as últimas palavras do estrangeiro. Jaqueline quebrou novamente o silêncio.
― Não compreendo, o que será que eu teria esquecido sobre você?
― É que, na verdade, me parece que vocês duas cometeram alguns pequenos erros, erros que podem lhes custar bem caro ― Radic continuava a mirar fixamente a sua taça cheia de sangria.
― Nossa Senhora, pois não é que o amigo Radic agora nos brinda com charadas de sentido duvidoso? Explique-se melhor, por favor ― Lucía procurava disfarçar o nervosismo que seus gestos traíam.
― Bem, acho que como prova de gratidão deste convite generoso de duas belas mulheres devo-lhes ao menos uma amostra de reconhecimento. Meu verdadeiro nome é Thomas Boyd, ou, pra fazer um trocadilho fácil, Boyd, James Boyd. Sou agente secreto americano  ― ele riu, mas o seu rosto desmentia qualquer intenção de graça. Ele olhava diretamente nos olhos das duas estupefatas amigas.
― Isto é algum tipo de piada? Se for, meu caro, é uma de péssimo gosto ― Jaqueline levantou meio corpo para encará-lo de frente, sentia um peso estranho a lhe travar os movimentos.
― Não, infelizmente não é uma piada. A maior parte da minha vida tem sido um emaranhado de mentiras, identidades falsas, mudanças de país e de funções, enfim, não quero cansá-las com as minhas agruras. É hora de falarmos das dificuldades em que vocês se meteram ― Boyd/Radic pousou o copo na mesinha ao lado da espreguiçadeira e adotou um tom sombrio.
― Sou toda ouvidos, se era pra me assustar, você conseguiu plenamente Mr. Boyd ― Lucí mexia nervosamente nos seus cabelos, os olhos quase a saltar das órbitas.
― Não vou negar que vocês tomaram todos os cuidados: desativaram o GPS do carro, desligaram os celulares... tomaram a precaução extra de utilizar estradas secundárias para evitar filmagens, etc., só esqueceram o pequeno detalhe de levar em conta com quem estavam lidando ― ele tomou o copo como se fosse beber, mas mudou de idéia repentinamente.
― Seja claro de uma vez por todas! Aonde quer chegar com essa conversa? ― Jaque percebeu que não conseguia se levantar, a cabeça girava.
― Jaqueline Arrascaeta, não é? Pois bem, Jaqueline, como eu, você mudou seu nome. Mas, sinceramente, achou mesmo que eu não ia descobrir? Que tipo de idiota vocês imaginaram que eu era? Assim, do nada, duas mulheres jovens e lindas estão super interessadas em me convidar para um agradável fim de semana no campo com a promessa, aliás bastante explícita, de um ménage à trois ? ― levantou-se com um movimento elástico, pleno de autocontrole ― Meninas, já faz um bom tempo que deixei de acreditar em Papai Noel...
Lucí tentou se levantar, mas desabou pesadamente no espaldar da cadeira. Sentia um sono sobrenatural, percebeu que a sua voz e a da amiga saía engrolada e pastosa.
― O que... que é que você pôs na nossa bebida? ― Lucí percebia em si um estado paradoxal de alarme e letargia progressiva
― Doses cavalares de midazolan, um sonífero poderoso. Provavelmente o mesmo que vocês tinham posto na minha bebida. Como foram primárias! Se deram ao trabalho de fazer um drinque diferente pra mim, achando que o coroa babão não ia perceber nada. Só uma pergunta: como iriam se livrar do meu corpo? ― ele ficava andando em volta delas, aumentando ainda mais a vertigem que as dominava irresistivelmente.
― A gen... te trouxe coletes de chumo, de chumbo... íamos te jogar no Alcoro... no, Alcornocálices, nu, numa represa ― Jaque sentia a consciência se esvair.
― Ok, entendi. Agora relaxem e se entreguem ao sono, vocês vão acordar em outro lugar. Fiquem tranqüilas, assumo tudo a partir daqui.



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