Querido Missosso
Primeiramente gostaria de dizer que você não traiu minha confiança e te agradeço do fundo do coração por suas palavras e preocupação. Acho um pouco abusada, um tanto engraçada, um tanto perigosa, a sua idealização da minha pessoa nesse papel que, parece, você me destina: a Grande Dame. De todo modo, é uma necessidade sua.
Essa experiência amorosa com Mr. M se revelou uma entrega ao mistério, uma forma de desalojamento de si mesma em direção ao outro, uma renúncia de aspectos próprios a caminho de um destino que pensei poder compartilhar. É quase, meu amigo, um voltar à pureza da criança, sempre aberta ao que se revela, fluindo com a própria vida!
Amor esse, que por um tempo, foi um verdadeiro portal para vivências do sagrado, onde me abri genuinamente para o sentido da existência e da beleza em ser mulher. Você sempre insistiu neste ponto comigo, “A” mulher é uma construção, já que ninguém nasce “mulher” ― torna-se, segundo Freud ou Simone de Beauvoir.
Viver aberta para a aventura desse encontro foi de uma riqueza ímpar e isso, de fato, não combina com a palavra "migalheira", como me auto-referi. Posso dizer que me abri, que me arrisquei, me recriei, mas chegou a hora de aceitar que essa história chegou a um beco sem saída. Uma intimidade que, de transcendente, se transformou em tóxica como você bem me alertou.
Uma relação sem perspectiva nos joga fora da condição humana e nossa sobrevivência física e emocional fica ameaçada, é uma forma de experimentar morte em vida. Tive inúmeros sonhos e sintomas físicos que me mostraram isso!
A aceitação, desde o início, do lugar de "guardada" talvez já evidenciasse a falta de crescimento, o aprisionamento, a pseudosegurança afetiva que eu entrava. Percebo agora que, ao ser “guardada”, não fui legitimada, ao ser “protegida”, não pude viver a plenitude do que poderíamos alcançar. De que me adianta ficar com o príncipe ao final do jogo? ― a vida só existe no durante, meu amigo.
Estou sendo chamada a olhar que a proximidade com Mr M me revela o que não foi transcendido, transformado e curado em mim. Vou levar um tempo para me desintoxicar, mas já são quase quinze dias sem nenhum tipo de contato com o vício! Hoje é o primeiro do resto dos meus dias, como dizem nos grupos de auto-ajuda.
Meu querido amigo, não deixei de sonhar e continuo a acreditar, como diz Camus, que no inverno, descubro em mim um verão invencível! E você sempre me ajudou nisso, pontuando, relembrando o que vê de melhor em mim. Não sei se te convidei a ser meu espião, te sinto como um guardião, tanto daquilo que tenho de melhor quanto da minha sombra.
Tive um verdadeiro insight com aquela frase: NÃO SE PODE AMAR E SER FELIZ AO MESMO TEMPO. É pensando nessa impossibilidade de amar e ser feliz ao mesmo tempo que entro em relações que confirmem essa crença a meu ver absurda e limitadora. Nisso discordo de você: a vida não é sem sentido nem cruel, é apenas um mar de possibilidades que se abrem a quem as puder enxergar.
Com Amor
Valentina (está renascendo em mim)
Primeiramente gostaria de dizer que você não traiu minha confiança e te agradeço do fundo do coração por suas palavras e preocupação. Acho um pouco abusada, um tanto engraçada, um tanto perigosa, a sua idealização da minha pessoa nesse papel que, parece, você me destina: a Grande Dame. De todo modo, é uma necessidade sua.
Essa experiência amorosa com Mr. M se revelou uma entrega ao mistério, uma forma de desalojamento de si mesma em direção ao outro, uma renúncia de aspectos próprios a caminho de um destino que pensei poder compartilhar. É quase, meu amigo, um voltar à pureza da criança, sempre aberta ao que se revela, fluindo com a própria vida!
Amor esse, que por um tempo, foi um verdadeiro portal para vivências do sagrado, onde me abri genuinamente para o sentido da existência e da beleza em ser mulher. Você sempre insistiu neste ponto comigo, “A” mulher é uma construção, já que ninguém nasce “mulher” ― torna-se, segundo Freud ou Simone de Beauvoir.
Viver aberta para a aventura desse encontro foi de uma riqueza ímpar e isso, de fato, não combina com a palavra "migalheira", como me auto-referi. Posso dizer que me abri, que me arrisquei, me recriei, mas chegou a hora de aceitar que essa história chegou a um beco sem saída. Uma intimidade que, de transcendente, se transformou em tóxica como você bem me alertou.
Uma relação sem perspectiva nos joga fora da condição humana e nossa sobrevivência física e emocional fica ameaçada, é uma forma de experimentar morte em vida. Tive inúmeros sonhos e sintomas físicos que me mostraram isso!
A aceitação, desde o início, do lugar de "guardada" talvez já evidenciasse a falta de crescimento, o aprisionamento, a pseudosegurança afetiva que eu entrava. Percebo agora que, ao ser “guardada”, não fui legitimada, ao ser “protegida”, não pude viver a plenitude do que poderíamos alcançar. De que me adianta ficar com o príncipe ao final do jogo? ― a vida só existe no durante, meu amigo.
Estou sendo chamada a olhar que a proximidade com Mr M me revela o que não foi transcendido, transformado e curado em mim. Vou levar um tempo para me desintoxicar, mas já são quase quinze dias sem nenhum tipo de contato com o vício! Hoje é o primeiro do resto dos meus dias, como dizem nos grupos de auto-ajuda.
Meu querido amigo, não deixei de sonhar e continuo a acreditar, como diz Camus, que no inverno, descubro em mim um verão invencível! E você sempre me ajudou nisso, pontuando, relembrando o que vê de melhor em mim. Não sei se te convidei a ser meu espião, te sinto como um guardião, tanto daquilo que tenho de melhor quanto da minha sombra.
Tive um verdadeiro insight com aquela frase: NÃO SE PODE AMAR E SER FELIZ AO MESMO TEMPO. É pensando nessa impossibilidade de amar e ser feliz ao mesmo tempo que entro em relações que confirmem essa crença a meu ver absurda e limitadora. Nisso discordo de você: a vida não é sem sentido nem cruel, é apenas um mar de possibilidades que se abrem a quem as puder enxergar.
Com Amor
Valentina (está renascendo em mim)
4 comentários:
Ai Capitu, nem perca seu tempo, afinal "It was all about Escobar" como poderia ser diferente?
você está pensando numa felicidade moderna e burguesa, de quem tem um monte de coisas e fica olhando para elas, deixa disso companheiro, não há outra felicidade, senão, o amor, com toda a sua ausência de coisas.
Fiquei aqui pensando com meus botões: Que lugar besta ficou esse Mr.M. Vicio! Coisa toxíca! Droga! Coisas que devem ser eliminadas para que possamos ficar puros, limpos e resplandescentes.
Só conhecemos a vivencia de Valentina (assim mesmo, quase nada) e sua visão da relação deles e me lembro dos filmes de Bunõel que retratam tão bem a incomunicabilidade humana, que nos assalta as vezes (as vezes, para não ser pessimista). Vai saber o que se passa com Mr.M...
Bem disse o Antonio, "...o amor, com toda sua ausencia de coisas."
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