quarta-feira, 10 de junho de 2009

A Resposta: Valentina é uma Capitu que fala!





Querido Missosso

Primeiramente gostaria de dizer que você não traiu minha confiança e te agradeço do fundo do coração por suas palavras e preocupação. Acho um pouco abusada, um tanto engraçada, um tanto perigosa, a sua idealização da minha pessoa nesse papel que, parece, você me destina: a Grande Dame. De todo modo, é uma necessidade sua.

Essa experiência amorosa com Mr. M se revelou uma entrega ao mistério, uma forma de desalojamento de si mesma em direção ao outro, uma renúncia de aspectos próprios a caminho de um destino que pensei poder compartilhar. É quase, meu amigo, um voltar à pureza da criança, sempre aberta ao que se revela, fluindo com a própria vida!

Amor esse, que por um tempo, foi um verdadeiro portal para vivências do sagrado, onde me abri genuinamente para o sentido da existência e da beleza em ser mulher. Você sempre insistiu neste ponto comigo, “A” mulher é uma construção, já que ninguém nasce “mulher” ― torna-se, segundo Freud ou Simone de Beauvoir.

Viver aberta para a aventura desse encontro foi de uma riqueza ímpar e isso, de fato, não combina com a palavra "migalheira", como me auto-referi. Posso dizer que me abri, que me arrisquei, me recriei, mas chegou a hora de aceitar que essa história chegou a um beco sem saída. Uma intimidade que, de transcendente, se transformou em tóxica como você bem me alertou.

Uma relação sem perspectiva nos joga fora da condição humana e nossa sobrevivência física e emocional fica ameaçada, é uma forma de experimentar morte em vida. Tive inúmeros sonhos e sintomas físicos que me mostraram isso!

A aceitação, desde o início, do lugar de "guardada" talvez já evidenciasse a falta de crescimento, o aprisionamento, a pseudosegurança afetiva que eu entrava. Percebo agora que, ao ser “guardada”, não fui legitimada, ao ser “protegida”, não pude viver a plenitude do que poderíamos alcançar. De que me adianta ficar com o príncipe ao final do jogo? ― a vida só existe no durante, meu amigo.

Estou sendo chamada a olhar que a proximidade com Mr M me revela o que não foi transcendido, transformado e curado em mim. Vou levar um tempo para me desintoxicar, mas já são quase quinze dias sem nenhum tipo de contato com o vício! Hoje é o primeiro do resto dos meus dias, como dizem nos grupos de auto-ajuda.

Meu querido amigo, não deixei de sonhar e continuo a acreditar, como diz Camus, que no inverno, descubro em mim um verão invencível! E você sempre me ajudou nisso, pontuando, relembrando o que vê de melhor em mim. Não sei se te convidei a ser meu espião, te sinto como um guardião, tanto daquilo que tenho de melhor quanto da minha sombra.

Tive um verdadeiro insight com aquela frase: NÃO SE PODE AMAR E SER FELIZ AO MESMO TEMPO. É pensando nessa impossibilidade de amar e ser feliz ao mesmo tempo que entro em relações que confirmem essa crença a meu ver absurda e limitadora. Nisso discordo de você: a vida não é sem sentido nem cruel, é apenas um mar de possibilidades que se abrem a quem as puder enxergar.

Com Amor

Valentina (está renascendo em mim)

4 comentários:

Anônimo disse...

Ai Capitu, nem perca seu tempo, afinal "It was all about Escobar" como poderia ser diferente?

Climacus disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Climacus disse...

você está pensando numa felicidade moderna e burguesa, de quem tem um monte de coisas e fica olhando para elas, deixa disso companheiro, não há outra felicidade, senão, o amor, com toda a sua ausência de coisas.

angela disse...

Fiquei aqui pensando com meus botões: Que lugar besta ficou esse Mr.M. Vicio! Coisa toxíca! Droga! Coisas que devem ser eliminadas para que possamos ficar puros, limpos e resplandescentes.
Só conhecemos a vivencia de Valentina (assim mesmo, quase nada) e sua visão da relação deles e me lembro dos filmes de Bunõel que retratam tão bem a incomunicabilidade humana, que nos assalta as vezes (as vezes, para não ser pessimista). Vai saber o que se passa com Mr.M...
Bem disse o Antonio, "...o amor, com toda sua ausencia de coisas."