sábado, 11 de junho de 2011

por que se mata o poeta?

Árdua entre as mais tarefas

que impõe a vida continuar

vivo não é fácil e requer

experiência

ninguém pediu para nascer

supostamente

por que então o poeta pede

para sair?

desce do trem e da vida antes

do fim da festa do pôr

do sol do inverno e da

colheita

o estouvado gesto é claro

erro crasso e necessário

a mim a vocês ao camponês

e ao operário

o poeta surfa a onda na velocidade

da luz

um vacilo e ele perde todos os espelhos

torna-se irremediável solitariamente

contrário

tragado pelo caldo primitivo nas entranhas

do Grande Buraco

em 1925 Siérguei Iessiênin corta os pulsos

escreve versos com sangue e

se enforca

grita Maiakovski contra os "versos velhos no velório" do jovem

porque somos chamados a sustentar o corpo imenso

do morto

já que sem poetas estamos um pouco menos

despertos

menos atentos à barulheira que faz a poesia

em nossos sentidos

os suicidas sempre deixam uma mensagem

em código

escrita numa língua antiga e indecifrável

a qual esquecemos

mas que afinal lembramos uma última vez

cedo ou tarde.


4 comentários:

José Doutel Coroado disse...

Caro Missosso,
Sim... Por que se mata o poeta? E no caso de Yesenin, se mata duplamente?
abs

filipe com i disse...

pois é Josephus, prometo pra breve os tais versos de sangue do pobre. abs

Diário de Leitura Interanssantíssimo... disse...

Eiii massa sua poesia!
Visite meu blogger
www.poesiassoltasebemarranjadas.blogspot.com
valew

Sandra Nunes disse...

Talvez para dar vida à poesia. Bela reflexão poética a sua Missosso.