Segundo uma visão amplamente difundida,
crises econômicas são processos inerentes ao modo de produção capitalista, um
sistema que promove periodicamente a destruição seletiva de capitais, destruição
esta, necessária para que o sistema possa retomar novos ciclos de acumulação.
No entanto, percebe-se que é absolutamente obscura a forma pela qual a potência
hegemônica e os Estados nacionais arbitram as disputas políticas, as perdas, e
impõem o ônus dessas destruições. Nos últimos quarenta anos, a grande finança
mundial organiza quadrilhas, comete crimes e contravenções em escala mundial,
compra elites políticas, fabrica leis em benefício próprio, corrompe as
instituições regulatórias, provocando, em conseqüência, crises abissais
periódicas. A sujeira causada pelos chamados Senhores (e ladrões) do Universo é
limpa com dinheiro público. Desde que, em 1973, começou a desregulamentação do
mercado financeiro, encerrando a grande expansão do capitalismo mundial
iniciada em 1945, a
alta finança especulativa tem sido responsável direta pelas crises econômicas
que sacodem o planeta. O primeiro colapso espetacular ocorreu em meados dos
anos 1980 nos EUA e Japão, arrastando o sistema bancário japonês e as caixas de
poupança (Savings & Loans), a bolha financeira da década seguinte iria
estourar em 2001, envolvendo bancos e auditoras como a Arthur Andersen, que
ajudaram grandes empresas a maquiar balanços e rapinar o mercado (casos Enron,
WorldCom, Tyco, GlobalCrossing, Lucent e Adelphia); nos anos 2000, bancos
europeus foram condenados por ajudar clientes a fraudar o imposto de renda. De
acordo com a ONU, a crise global de 2008, desencadeada a partir dos créditos
podres do mercado imobiliário americano, já consumiu mais de 20 trilhões de
dólares em ajuda pública a bancos e outras instituições financeiras privadas.
Este valor é dez vezes maior que os 2 trilhões de dólares que os países ricos
doaram aos países em desenvolvimento nos 67 anos de existência da Organização. Esta
última crise destruiu milhões de empregos, elevando em 50 % as taxas de
desemprego em todo mundo.
―
Parece que temos uma epidemia... todos os dias recebo novos comunicados em que
funcionários da manutenção, da limpeza ou da segurança relatam o aparecimento
do Diabo em algum canto...
―
Pois é, Macedo, o último caso foi das faxineiras, no palco do Golden Hall.
―
Varia um pouco, mas é sempre a mesma ladainha: dizem que o Senhor das Trevas
surge à distância, bem vestido, calado, tirando uma com tudo e todos... Às
vezes é um cavalheiro sem cabeça, noutras, carrega a cabeça a tiracolo. Temos
um belo pepino nas mãos, meu caro!
―
Veja, não estou parado, convoquei reuniões, enquadrei as equipes e os
supervisores de cada área, mas...
―
Sei disso, nada está adiantando. Escuta, conseguiu contato com o pastor Dimas?
―
A secretária dele vai me dar um retorno hoje de tarde... A idéia é trazer uma
comissão com ministros da Universal, da Mundial, Deus é Amor, Evangelho
Quadrangular, Sara Nossa Terra, Renascer e da Assembléia pra exorcizar as
instalações do complexo... talvez até fazer um culto ecumênico com as
equipes...
―
Quer dizer, são os nossos principais clientes da Feira Cristã...
―
Sim, consegui falar com a assessoria de imprensa deles, e eles se mostraram
favoráveis a uma intervenção mais... bem, mais de massa, do que com pequenos
grupos, entende?
―
Sim, claro, o negócio deles é business, grandes números... Mas, não vai ter
padre nessa?
―
Hã, o padre da paróquia daqui não aceitou fazer parte do grupo. Vem depois,
sozinho.
―
Putz, o franqueador não reconhece os franqueados... bom, isso não é problema
nosso, o importante é que não deixe de vir. Precisamos ter uma representação o
mais ampla possível.
―
Ok, Macedo, mais alguma coisa?...
―
Sim. Até onde eu sei, são dois os focos iniciais dessas... visões, um tal de
Altair, da segurança, e a Cida, da limpeza. Procede? Então, quero que você ponha
esses dois na rua, o quanto antes.