domingo, 14 de julho de 2013

Aparição do Demônio na Torre do Mundo (parte 1)


São Paulo, 15 de setembro de 2008, 8:00 horas AM.

Poucos dias antes da chegada do outono no hemisfério norte, numa segunda feira de manhã, o banco Lehman Brothers pediu concordata. Na sexta feira anterior, dia 12, as ações do banco haviam caído 13,5 % na Bolsa de Nova York. Após um fim de semana de intensas discussões, o mais alto escalão das autoridades financeiras dos EUA decidiu, à 1 hora da manhã do dia 15, que não seria possível socorrer o Lehman. Participaram desta renião Hank Paulson, secretário do Tesouro dos EUA, Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (o Banco Central americano) e Timothy Geithner, presidente do Federal Reserve de Nova York. Falia assim o quarto maior banco dos EUA, com 25 mil funcionários, ativos de 600 bilhões em 84 países do mundo, e 158 anos de existência. Era o início da primeira crise econômica mundial do século XXI.

            ― Senhores e senhoras, bom dia. Meu nome é Macedo, Ronivaldo Macedo, sou o gerente operacional do World Trade Center, o maior centro de eventos em um complexo hoteleiro no Brasil e na América Latina. O WTC Brasil faz parte da rede WTC Association, presente em mais de trezentas cidades e mais de cem países. Talvez alguns aqui saibam que temos orgulho em fazer parte da rede internacional Sheraton de hotéis. Nossa missão: prosperidade através do comércio, a prosperidade, pra ser bem exato, é o principal foco do WTC Business Club, uma completa infraestrutura para negócios, hospedagem, compras e lazer em um universo de sofisticação e estilo. São três os pilares principais dos nossos valores corporativos: associação, conhecimento e internacionalidade. Senhoras, senhores, vocês estarão de agora em diante encarregados da segurança de um dos mais importantes clubes de negócios do mundo: mais de dois mil membros entre os executivos das maiores empresas globais, dezenas de comitês especializados, cinco andares, doze mil metros quadrados divididos em sessenta espaços flexíveis que acomodam perto de trezentos grandes eventos por ano. Trabalhamos duro, e mais, somos diariamente avaliados. Cada um e todos aqui são vigiados vinte e quatro horas por dia, exames de surpresa mensais pra detecção de drogas, além de avaliações semanais por metas e resultados, e mais as duas semestrais com feedback de superiores e subordinados. Nossos clientes, ainda que venham das mais seletas redes mundiais de contatos profissionais, apresentam necessidades e características específicas em termos de cobertura e proteção, por exemplo, nós adotamos cinco níveis de segurança, conforme vocês podem acompanhar no gráfico projetado na tela...
            — 'xe Maria, esse tal de Macedo chupa um limão-galego e dois jiló antes de sair de casa. é não?
            — Ele tem aquela cara desenxabida de quem foi peidar e deu uma freada na cueca.
            — Altair, tu tá entendendo o que esse cara daí tá falando?...
            — Shhh, rapaz, fale baixo. O que eu entendi é o seguinte: o serviço é pesado, a pegada é forte, os bacana daqui são muito do fodão, e se a corda estora, o reio vem direto no nosso lombo.
            — Mas rapaz, isso é diferente onde? Vamo ser babá de gente grande, gente da massa! Mas pra nóis não pega nada, nóis é playmobil...
            — Oxe, tá de brinca... nóis é o quê?
            — Sabia não, boi? É assim que chamam nóis os guarda de verdade, os que têm arma. Eles diz que a gente só tem a roupa, o quepe e o radinho, os besta!
            — Tô nem aí. Com arma, ou não, preciso trabalhar, não tenho a vida ganha pra perder tempo com fofoca.
            — Altair, esta bagaça é grande que é a porra, vamo bater um bom bocado de perna... e tu ainda vai se gastar no turno do sono, feito coruja de igreja...
            — Até prefiro. Durmo de dia, faço uns bicos de tarde, e depois, já viu a fedentina dessa marginal de dia?
            — Sai dessa, cumpadre. Canso de te falar pra gente dar um rolê, ir nos bailão, tu tem que largar de só se foder nessas noitada de corno. Só que tu é teimoso mais que mula... sabe bodião, o peixe?, então, tu tem a cabeça igual do bodião, trombudo que nem.
            — Tu me lembrou de uma história que o meu velho contava... um cabra tava puto com o jegue dele que empacou e berrava: "Anda jegue, que além de jegue é burro, carrega cana e bebe água!", no que o bicho devolveu: "Eu carrego cana por obrigação e bebo água por gosto, mas vosmecê fica com a bagaceira, enquanto o seu dono, o dono da terra, toma o licor e a aguardente que você gosta, mas não pode".           E dizendo isto, entrou num roçado de milho dando cabo dele por mais paulada que lhe deram.
            — Carai, agora é tu que tá falando alto demais, o nosso supervisor escutou tudim...
            — Hmm, esse daí conheço bem, é da mesma congregação da minha sogra, uma jararacuçu!



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