sábado, 9 de novembro de 2013

a escolha do Supremo (final)


― Vem cá Gaúcho, duas mil e seiscentas, e mais uns quebrados?!
― Pelo menos! Essas são as cadastradas no sistema, fora as que a gente pega por aí e nem põe no currículo...
― Não dá, cara, é muita precheca!...
― Já fiz a conta, a média dá quase uma mulher a cada dois dias. Claro que não sou trouxa que nem os manés que vão no Bamboa, no Photo, no Bahamas, e pagam trezentos, quinhentos, por um programa que sai por cenzão na Augusta. E são as mesmas minas!
― Ah, sei não... vamos auditar esses números, a gente tem aí o cadastro do Casarão, não é?
― Isso mesmo, o dono ali é o cara, tem várias franquias, e lá não tem tempo ruim: é de segunda a segunda, a qualquer horário. Trinta e cinco pro quarto, mais bebida, o resto é da vagaba.
― Então, o mala tem mais de três mil no cadastro, e você, Gaúcho, tá dizendo que papou a maioria delas? Mano, tu gastou um picho nervoso em buceta!
― Ah tá... pelo menos com o sexo pago a gente sabe quanto custa, pra mim saiu duzentos e cinqüenta mil. Ponto. Em vez de carrão, gastei em mulher; meu sonho de consumo é chegar no scout do Renato Gaúcho: cinco mil.
― É, mas o cara sendo jogador de futebol, celebridade, fica mais fácil... Nunca te aconteceu de se apaixonar, tipo, ficar de love, a mina fazer no amor...
― Hã-hã, meu negócio é dar uma. Acabou? Próxima. A fila anda e a catraca gira. Toda vez que eu vejo um otário sair de mão dada pro quarto com a vadia, já começo a rir.
― Gauchão não quer romance, negócio dele é pontuar!
― Ah não, ficar de mô-mô pra cá, benzinho pra lá? Tô fora. A melhor maneira de sair de uma folie à deux é com um ménage à trois, uma paixão platônica se cura com uma trepada homérica!
― Hmm, mas então... se pá, capaz de tu ter papado a patroa do Futuro Sogro! Quer dizer, na época que ela tava na viração...
― Ei, ei, muita calma nessa hora... Vamo deixar mulher de amigo de fora da conversa, como dizia o meu avô: nunca beba sozinho, não jogue a dinheiro, nem coma a mulher do próximo, esse é o segredo da vida longa e sem encrencas.
― Ah, mas que pode ter acontecido, lá isso pode...
― Putanheiro de responsa come, paga, e vaza. Olha, pra cês terem uma idéia, já fui expulso de suruba por mau comportamento, mas comigo não tem essa de talarico... mulher dos outros pra mim é homem.
Os moleques ainda ficaram me apertando durante uma hora, mas não abri o bico. Não sou besta. A verdade não é coisa que se publique em jornal, muito menos se pode soltá-la na internet, ou em papo furado de mesa de bar. O fato cru e cozido é que sou um especialista em mulher da vida, enxergo de longe, elas podem estar vestidinhas de santas na balada, no shopping, na missa, na praia, em festa chique de gente bacana. Reconheço na hora que bato os olhos, e elas também.
Foi assim com a ucraniana do Aber e com a esposa do Futuro Sogro, que tracei depois de estar casada com o coitado. Pra não dar B.O., paguei o serviço de ambas. Não sou chegado em diz-que-me-diz-que, sexo pago sai sempre mais barato. O resto é contorcionismo de nego que quer tirar as meias sem tirar os sapatos. Exibicionismo barato.
― Senhoras e senhores, caros colegas, hoje, pela primeira vez numa escolha do Supremo, o aniversariante (eu, Gaúcho) fez o bolo que será em breve servido a todos. Isto não foi por acaso ou capricho, pensei muito sobre a melhor maneira de pôr em relevo a razão do meu voto, que coincide com a visão desta empresa na qual trabalhamos, nossa missão junto aos clientes e parceiros nesta jornada de quinze anos. Por que, no fim das contas, o que é a 1Q84? Uma empresa de serviços. Portanto, nosso trabalho é servir, entregar produtos e serviços de qualidade que facilitem a vida dos nossos clientes, que, por sua vez, servem aos seus próprios clientes e ao público em geral. Peço a vocês que reflitam comigo sobre a arte de ajudar, assistir a quem precisa, este equivalente comercial do amor ao próximo, tão pregado pela cristandade; pensem nisso: que pode haver de mais nobre do que servir a uma grande obra, colaborar no desígnio maior, aquele do Ser Supremo? Servir a Deus tem, desta forma, o valor máximo; servir aos outros, é a decorrência natural. É necessário ter a coragem de servir à sociedade, pois esta é uma servidão que liberta, ao contrário da desobediência às regras, geradora da violência e da baderna. Na desordem, perdemos todos, sem lei e sem um propósito, o ser humano cai na tirania do todos contra todos: o mundo Mad Max. Perdido o comando, abandonado o sentido de comunhão e serviço ao próximo, mergulhamos no pior dos cenários, aquele no qual, em vez de servir aos melhores, somos escravizados pelos brutos. O que é melhor?, ter um senhor, ou ser tiranizado por vários? A verdadeira essência do servir não é a obrigação, o “tenho que fazer porque me mandaram”, não, meus caros, a potência contida nesta aptidão humana vem da devoção, a devoção a uma idéia. Um punhado de homens e mulheres determinados por uma idéia comum pode conter um exército de milhões; lembrem dos Trezentos de Esparta: para resistir ao invasor bárbaro, antes é preciso se tornar sujeito grego. Ora, sujeito, súdito, cidadão, é aquele que se sujeita a uma idéia-guia, um conjunto de valores, e por isso mesmo, passa a ser dono do seu destino. (...) Aprender a viver é aprender com derrotas e perdas, as vitórias vêm em conseqüência deste aprendizado. A todos aqueles que aspiravam à Supremacia Bourne, peço que aprendam a perder. A vez de cada um chegará, havendo o merecimento. Então, pra encurtar a história, and the winner is...”


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