O táxi parou
do outro lado da avenida, Jaqueline desceu e foi sentar-se encostada no Seat
amarelo do seu futuro ex amante, o plano era linear: esperaria ele sair do
prédio, constatava o flagrante delicto e extirpava Paco da sua vida. Precisava
ser assim, a mera apresentação das imagens renderia da parte dele negativas e
invencionices que ela não estava disposta a suportar. Quando se tratava de
finalizar romances, preferia a técnica do esparadrapo: arrancar com firmeza e
de uma vez só. Parcelar a fatura ou procrastinar só aumenta a dor nessas horas.
Passaram-se
quarenta minutos, uma eternidade quando se espera sem absolutamente nada pra
fazer. Então, quase como um anticlímax, lá vem o Paco saindo do prédio em
frente junto com outro morador, cara de satisfeito, cabelos um pouco
despenteados. Tudo que ela preparara desaba em instantes, suas pernas
fraquejam, o corpo congela subitamente, o coração acelera os batimentos como se
fosse explodir no peito, aperta a vista pra poder ver mais claro, reconhecer
melhor, mas não consegue manter a consciência por mais tempo. Desmaia.
Acorda deitada
num sofá desconhecido de uma sala desconhecida, mas não se levanta. Paco
conversa com alguém fora do alcance do seu campo visual, falam sobre ela.
― Então ela
estava ali desmaiada do lado do seu carro, assim, como se nada?
― Lucía,
acredita em mim, estou tão por fora como você...
― Bom, de
qualquer maneira isso ia vir à tona uma hora ou outra.
Relanceou os
olhos semiabertos à sua volta, na mesa em frente ao sofá havia um copo, uma
garrafa de água e um saleiro. A sua bolsa jazia numa poltrona em veludo verde
escuro que completava o jogo de mobiliário da sala decorada em vago estilo art
déco. Elevou-se apoiada nos cotovelos pra poder entrar na conversa.
― Quem era
ele? ― Jaqueline fitou os dois piscando na contraluz da janela.
― Ele quem?
Sou eu, Paco. Jaque, você lembra de alguma coisa antes de apagar?
― É, lembro
sim, lembro que você não podia me encontrar depois do trabalho porque precisava
ir mais cedo pra casa ― Jaque conseguiu se sentar no sofá e agora conversava
melhor com a dupla.
― Hãm, Jaque,
esta é a Lucía...
― Olá,
Jaqueline, você está na minha casa, o Paco te trouxe da rua. Parece que você
estava desmaiada ao lado do carro dele ― Lucía sentou-se na poltrona livre da
sala.
― É verdade
Lucía, eu estava esperando por ele. Não era minha intenção entrar na sua casa.
― Tudo bem,
Jaqueline, você deve ter passado mal com esse calor. Pode ficar aqui até se
recuperar, foi só um desmaio.
― Muito
obrigada, gentil da sua parte. Mas veja só: nosso amigo Paco está ansioso,
imagino que ele precisa voltar correndo pra casa. Já mentiu que fez um plantão
duplo ontem, não vai poder ficar muito, né?
― Olha Jaque,
nós não precisamos discutir isso agora... ― Paco sentou-se mantendo a bolsa
dela sobre o seu colo.
― Não
precisamos discutir coisa alguma, até porque não há nada a ser discutido: está cristalinamente
claro que você e a Lucía estão juntos, então eu tiro meu time de campo e ponto
final. Triângulo eu até agüento, quadrilátero é além das minhas possibilidades.
― Você não
precisa ser irônica assim, Jaque ― volta-se pra Lucía ― Meu bem, preciso mesmo
ir andando...
― Ok, pode ir,
deixa que eu cuido da Jaqueline. Ela já melhorou.
― Sim, Paco,
vai pra casa bater cartão. Eu tenho um assunto sério de verdade pra falar com a
Lucía, e não é sobre você, garanhão andaluz.
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