segunda-feira, 3 de outubro de 2011

a curadora (parte 2)


Acabei descobrindo um padrão que se repetia nas apresentações do grupo auto-intitulado os curadores: invariavelmente eles tocavam em festivais ou concertos beneficentes, sempre em palcos coletivos; aquela banda meia-boca não segurava um show solo, nem aqui, nem na China. Musicalmente falando, o som do The Healers é uma salada de ritmos, citações, samples e influências que não vai para lugar nenhum em termos artísticos; um pupurri tosqueira que não diz ao que vem. O empresário deles devia ser um Midas, um mago, ou o melhor empresário musical do mundo, para conseguir promover aquela sonzeira cansada.
Estava louco de expectativa para reencontrá-la, mas, ao mesmo tempo, experimentava uma leveza inédita em três décadas de vida: flanava. Vagabundeava a esmo pela cidade, tirava fotos com o celular, refletia, parava de basbaque numa roda de taxistas e comentava qualquer coisa; estava tomado pelo vírus da observação, que é primo do da vadiagem. Saía bundando por aí de manhã, de tarde, à noite, acompanhava a coleta do lixo, os consertos da rede de TV a cabo, a entrega dos jornais, os congestionamentos, as discussões dos mendigos.
Foram meses de turnê mundial dos curandeiros do afrobeat, Escandinávia, Europa Oriental, Sudeste Asiático, então, finalmente, um show único no Brasil. Para meu azar, Salvador. Como atualmente só trabalho de frila, não foi problema enforcar a sexta-feira e me jogar na ferveção do circuito Barra-Ondina. Estava uma muvuca ensandecida em torno do palco, constatei in loco que a animação do calendário de festas em Salvador é mesmo do balacobaco. Baiano não nasce, estréia.
Lá pelas tantas, saquei que ela já tinha me visto, mas brincava de esconde-esconde; só que não estava disposto a desistir tão fácil da minha vocalista, cacei-a com o fanatismo de um cão perdigueiro, um seguidor de Xuxa dos tempos modernos. Até que praticamente esbarramos um no outro numa curva do backstage. Gata encurralada, não havia para onde correr.
― Oi...
― Oi. Então, cara, desta vez você gostou?
― Bem, médio... mas eu preciso, quer dizer, dá pra gente sair fora e conversar noutro lugar?
Saímos dali, fomos para um quiosque onde pedi duas margheritas. Demorou um tempão para trazerem as bebidas, mas agora já tinha perdido toda a pressa. Ela me pareceu mais relax, aparentemente, tinha parado de fumar.
― Hãm, o que é que você fez comigo?
― Não sei do que é que você está falando...
― Sabe sim, desenrola a fita aí, vai.
― Você que pediu, não vai acreditar mesmo...