Passiflora, flor da paixão e do maracujáA faculdade do conhecimento reconhece a dívida da memória para com a presença. Logo, o saber é incerto. O certo é que um amor é o amor em si mesmo, pois que há nele uma unidade, e esta unidade é contingência e solidariedade e vazio.
No amor não há dúvidas, só a cegueira convicta daqueles que se abrem às promessas do mistério.
Viver radica o existir na possibilidade; viver o amor, amar a liberdade, é o teatro eterno do pacto com o desconhecido.
Não sei o nome da fera que me apareceu em sonho, não sei e não quero saber. Há coisas demais do “outro lado”.
Agora que se foi, sinto a falta dela, para falar a verdade, sinto falta da ausência dela.
Imagino que sei o isso significa: só me cabe o amor que termina, que é instante, potencialidade, aposta. Amar o que está, não o que é.
Às vezes um espelho num lugar inesperado, outras, uma superfície refletora qualquer produz esse menos-que-segundo de irreconhecimento ― quem é?
Amor, desamor, reciprocidades que não são por, ou com, alguém, mas que repousam aquém do visível, no hiato do entre-tempo.
O que seria amar o amor, cair a seus pés, ser outro nele, confiar no mundo, acreditar que
isto é a felicidade?
Ou seria apenas mais uma ilusão?, como o encontro das paralelas no infinito, na eternidade realizar-se-ia seu poder ignorado, embora nunca houvesse estado oculto.
Ansiamos retê-lo, mas então o amor não se mostra; gostaríamos de transformá-lo, mas ele é pura metamorfose; desejaríamos agradecer-lhe, mas ele é perfeita generosidade e aventura.
Não encontramos nada que seja suficiente, ou revelação a tal ponto incompreensível; não há o que possa dominar esta força, que a possa dizer ou negar, constranger ou provar.
Só assim elevamos nossa vida à sua real potência, só desta forma o exílio adquire significado e a morte pode ser costurada à alma pelo avesso.