terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Parir a Eternidade: Obra do Amor

Passiflora, flor da paixão e do maracujá


A faculdade do conhecimento reconhece a dívida da memória para com a presença. Logo, o saber é incerto. O certo é que um amor é o amor em si mesmo, pois que há nele uma unidade, e esta unidade é contingência e solidariedade e vazio.

No amor não há dúvidas, só a cegueira convicta daqueles que se abrem às promessas do mistério.

Viver radica o existir na possibilidade; viver o amor, amar a liberdade, é o teatro eterno do pacto com o desconhecido.

Não sei o nome da fera que me apareceu em sonho, não sei e não quero saber. Há coisas demais do “outro lado”.

Agora que se foi, sinto a falta dela, para falar a verdade, sinto falta da ausência dela.

Imagino que sei o isso significa: só me cabe o amor que termina, que é instante, potencialidade, aposta. Amar o que está, não o que é.

Às vezes um espelho num lugar inesperado, outras, uma superfície refletora qualquer produz esse menos-que-segundo de irreconhecimento ― quem é?

Amor, desamor, reciprocidades que não são por, ou com, alguém, mas que repousam aquém do visível, no hiato do entre-tempo.

O que seria amar o amor, cair a seus pés, ser outro nele, confiar no mundo, acreditar que isto é a felicidade?

Ou seria apenas mais uma ilusão?, como o encontro das paralelas no infinito, na eternidade realizar-se-ia seu poder ignorado, embora nunca houvesse estado oculto.

Ansiamos retê-lo, mas então o amor não se mostra; gostaríamos de transformá-lo, mas ele é pura metamorfose; desejaríamos agradecer-lhe, mas ele é perfeita generosidade e aventura.

Não encontramos nada que seja suficiente, ou revelação a tal ponto incompreensível; não há o que possa dominar esta força, que a possa dizer ou negar, constranger ou provar.

Só assim elevamos nossa vida à sua real potência, só desta forma o exílio adquire significado e a morte pode ser costurada à alma pelo avesso.

4 comentários:

Climacus disse...

amor como um sonho em flor, sinistro.

Climacus disse...

se o amor é vida, vivos estamos num amor eterno... e não?

filipe com i disse...

droit au but, caro candido prado, sinistro é o que encontramos no amor: igual/diferente, o estranhamente familiar, repetição e diferença, etc. cumpre dizer que devo a inspiração ao impacto de 2 textos de um amigo: uma tradução de plotino de tirar o fôlego e um luminoso ensaio sobre o amor que não acaba.

Climacus disse...

o outro amigo agradece, mas, mudei o título para "amor sem fim", como na letra da Marisa Monte, de qualquer forma, a produção sempre é fruto da amizade.