Quando um artista rompe com a matéria de que é feito, equivale, para o mundo, à descoberta da própria textura. Mais do que se dirigir a um público, a verdadeira obra de arte abriga usuários dos ambientes e conexões que estabelece; cada obra se descobre enquanto participação e diálogo, na medida em que cria pertencimentos e se conecta com realidades onde vivem seres flutuantes.
Coexistem no objeto estético múltiplas arquiteturas simbólicas: por exemplo, se numa região do fenômeno artístico predomina o conceito, com o inevitável cortejo da infinita reprodutibilidade, noutra, evidencia-se a dimensão site-time-specific, em que a arte intervém na qualidade de dobra, de elemento reflexionante no jorro da vida.
Criação delirante, libertação por hipertrofia, o habitat da poesia é topologia instável transformada em sonho tangível. Arte não é resultado, é resto. É o que resta de um esforço para repotencializar a realidade, aumentá-la com metáforas, deformá-la por meio da saturação (ou carência) de sentidos.
A arte não transforma o mundo, nem o artista, mas pode revelar em ambos seus percursos imprevisíveis e suas desconcertantes mentiras. Eterna e efêmera, cópia e simulacro, aço e alabastro, resiliente e dúctil, assim é a physis contraditória com que o artista ergue sua paisagem de segredos e revelações ― geologia de superfície cujo desabamento contínuo não pára de soterrar nosso frágil cotidiano.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
tudo merece uma segunda pele
foto de Carlos Patrício
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4 comentários:
se a vida imita a arte quer dizer que pra ficar vivo, a gente dá um duro danado?
os trabalhos e os dias, poetar o tempo em busca do fora do tempo.
ficar vivo, poetar o tempo, buscar a clausura do fora, tudo isso dá um trabalho...
É nóis na fita(diria o outro).
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