sábado, 17 de abril de 2010

canto desfeito (em terza rima)


no meio da vasta selva desta vida
seria moça, ou talvez fosse ave
o que vi, de rumo certo já perdida?


falei-lhe à porfia, porém suave
batia as rêmiges, fazia figas
em mil cores irisada cambiava


disse temer as serpes como imigas
(uma se lhe enrolou colo acima)
procuro os altos ramos, cumes, vigas


pois aos voantes a altura anima
no ramerrão terrestre, correm na lama,
dobram a cerviz, encolhem a carina


assim belcantou a mais que bela dama
mas não cessaram as fraudes e enganos
da mulher-pássaro, saí-da-montanha


o revés do amor é mal soberano
findou nossa conversa nesse instante
farto de tantas fintas mudei meus planos


o aspecto desfez-se completamente
coxas e patas e mais ventre e peito
nela se uniram como cera quente


bati asas
e voei
contrafeito

8 comentários:

José Doutel Coroado disse...

bons voos... ainda que contrafeitos
abs

Dalva M. Ferreira disse...

Que lindeza! Incrível o que essa tua alma contém. Uau!

angela disse...

Molto bella la tua poesia.
"Temer si dee di sole quelle cose
c'hanno poteza di fare altrui male,
de l'altre no, che non.son paurose"

filipe com i disse...

pavorosas são as coisas que têm pot~encia de nos atingir, tks leitores (as)

mauverde disse...

Mano, "imigas", seriam "inimigas"?

Ficou foda isso, ficou dorido, magoado.

Lídia Borges disse...

Bater asas e voar é, às vezes, o mais acertado...
Gostei muito!

Climacus disse...

“Um pressuposto (hupothesis) da liberdade é ser governado e governar alternadamente (eleutherias de hen men to en merei arkhesthai kai arkhein)” {Aristóteles, Política, 1317b 2-3}.

Anônimo disse...

nossa Paulo, isso não soa nada bonito, mas com certeza deve ser profundo...tipo eu cavo, tu cavas, nos...
Luv u!!!