domingo, 20 de junho de 2010

as coisas a que chamamos palavras

o problema da poesia
é sabermos se ela existe
ou não

ouvimos

o canto das sereias
cegamente
porque o poeta se amarrou
ao marinheiro

os pássaros falam com os anjos
ecos da criação
a língua dos deuses deve desaparecer
para que haja vida
assim como a realidade deve morrer
para que haja poesia

recentemente descobriram
que a loucura é só uma forma
mais sublime
de ciência

poesia é bandalheira
e sacanagem
o poeta veio para barbarizar
chama as coisas pelo nome
trata as palavras
como coisas

o trabalho da linguagem recorta
o dizível
em pedaços descontínuos
a natureza da poesia é ultrapassar
fronteiras

o poeta
usa metáforas como arma

contra a metafísica
faz do veneno
remédio para a linguagem cometer
suicídio

aqui onde estamos
as coisas ganharam
a autonomia
que as palavras perderam

6 comentários:

Lídia Borges disse...

Muito bem estruturado do ponto de vista poético e filosófico
A poesia como suicídio das palavras perpetrado pela metáfora... Interessante!

L.B.

filipe com i disse...

tks Lídia, vc foi simplesmnte ao ponto!

VELOSO disse...

Muito bom ótimo começar o domingo com sua arte!

José Doutel Coroado disse...

"faz do veneno
remédio para a linguagem cometer
suicídio"
gostei!!
abs

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

"aqui onde estamos
as coisas ganharam
a autonomia
que as palavras perderam"
----------
"semana de orações pelo sucesso: 7 mil kwanzas"[por pessoa], cartaz colocado à beira da estrada à porta de uma certa igreja da minha cidade.

Por aqui passei para deixar votos de bom começo de semana!

angela disse...

Que a poesia nos salve...
Melhor o canto hipnótico das sereias
que a imbecilidade da coisificacão.
Esta lindo seu poema.