quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

a treva é quem desacerta as cores




o carro estava ali, parado, demorando
até que veio o apagão:
de madrugadinha, tomando este e mais dois quarteirões abaixo
um buraco de escuridão medonha
no meio da cidade;
foi no instante que entrei,
antes é preciso dizer que o camarada estava
do lado de lá da rua, à esquerda da minha guarita
e era um pretume sem falhas, grosso
igual piche,
daí que o clarão medroso da chama
não vencia a espessura da noite por toda
força que fizesse
mas era o bastante para graduar a dimensão dela,
como uma vela cria tons na sombra
ou como o negror da roça são trevas
de outra matéria das que temos aqui;
ele deve de ter acendido um isqueiro ou fósforo dentro do carro,
acontece que naquela situação
o ar se encheu de grãozinhos de um cinza
mofado
mas que esplendiam com todas as cores do arco íris
fagulhas ciscando a noite, azougues
semelhavam, tanto que foi o instinto que tive:
pisquei

3 comentários:

Siddartha disse...

Gosto muito do jeito que você escreve, companheiro!Keep it up!

Dalva M. Ferreira disse...

Piscou?

filipe com i disse...

tremi, companheiras, vacilei...