domingo, 6 de junho de 2010

a memória das não-coisas

toda a poesia
é precisamente a situação
oscilante
de um bêbado à beira do precipício

mas a minha memória
cloaca máxima de rejeitos
espécie de museu
do oblívio

define e consome
as coisas como se só elas pudessem perdurar
para além da nossa mesquinhez
e precariedade

porém
amar não é
entre as diferenças nomeadas cotidianamente
previstas
captar as afinidades subterrâneas suas
dispersas similitudes?

porque há uma relação com a vida
que é de espanto
miragem
além do valor funcional
da serventia

como um E.T. tombado dos céus
que a estudasse com paixão e obstinado rigor
tomando paulatinamente consciência da queda
desarvoradamente
alumbrado diante das coisas

6 comentários:

Climacus disse...

"pintar um quadro é se engajar numa ação dramática, no curso do qual a realidade encontra-se dilacerada" Picasso.

José Doutel Coroado disse...

baita poema, caro cousin.
estáveis inspirado!
abs

angela disse...

Muito bom,é de fazer suspirar

Dalva M. Ferreira disse...

Numa outra dimensão, ah como eu gostaria de ter rimas e hinos de amor para tampar todos esses rombos! É duro perceber que estamos todos no mesmo barco, ETs perdidos bracejando na bruma... Hélas!

filipe com i disse...

uma realidade sem rombos? uma realidade dilacerada? que e quantas coisas vcs vêem... tks a todos (as)

mauverde disse...

Mas é assim mesmo, uma vez cometida a arte, não mais te pertence, sua presença e função não dizem mais respeito (somente) a você, rsrs