domingo, 19 de setembro de 2010

Aldeia dos Quatro Montes - Cap. 2

Aldeia dos Quatro Montes


2

Sua Excelência aguardava com expectativa que Luís, seu assessor, chegasse…
Felisberta, secretária de Sua Excelência, lia os jornais do dia.
Logo que o viu ao cimo das escadas, Sua Excelência mandou-o entrar para o gabinete e, fechando a porta, disse à secretária para não ser interrompido nos próximos cinco minutos… Ora, isto não era nada habitual e Felisberta ficou a matutar… Que teria acontecido? Que ela soubesse nada de extraordinário se tinha passado em 4 Montes nos últimos dias.

Entretanto, no Café ArcoBotante, a manhã decorria com a normalidade de uma qualquer quarta-feira, o dia mais calmo da semana.
Atrás do balcão, de braços atrás das costas, Salústrio, dono do estabelecimento mais bem frequentado de 4 Montes, olhava para o movimento que não acontecia no Largo da República.
Eram nove horas e seis minutos… Dentro de três minutos, a porta da casa amarela abrir-se-ia e às, exactamente, nove horas e dez minutos, o senhor director estaria sentado à mesa do canto. O Jornal das Notícias e um café (estupidamente curto… conforme desejo expresso do cliente) teriam de estar na mesa num piscar de olhos.
Tudo correu como sempre…
A porta abriu-se, o senhor director atravessou o Largo, o senhor director entrou pela porta do meio…
- Bom dia, senhor director!
- Bom dia, caro amigo!
- Cá está o cafezinho e o jornalzinho, senhor director.
O senhor director abriu o Jornal das Notícias, diário de distribuição nacional, que chegava a 4 Montes pelas sete da manhã, isto se o tempo o permitisse.
Salústrio dedicou-se à limpeza de uns copos e de uns cálices que já brilhavam antes de ele lhes pegar.
Bem gostaria de dar dois dedos de conversa com o senhor director. Mas não se atreveria a tal provocação… Era do conhecimento público que o senhor director detestava ser interrompido quando estava enfronhado na sua leitura matinal.
Além disso, Salústrio estava convencido que não demoraria muito a poder apreciar alguma animação.
O senhor Doutor Juiz tinha voltado no dia anterior da capital e deveria estar a chegar para tomar o pequeno-almoço. Uma torrada de pão centeio barrada com pouca manteiga de meio-sal e duas colheres daquele mel que só conseguia por especial favor e um galão, bem escuro.
Ao cimo do Largo, vislumbrou o magistrado…
Olá! Aqui há coisa… Quem será aquela senhora toda bem posta que o acompanha?
Saiu de trás do balcão, pegando num pano, e deu início à limpeza dos tampos das mesas, sem deixar de ir deitando uma mirada para o par que, calmamente, atravessava o Largo. Quando teve a certeza que se dirigiam para ali, aproximou-se da porta e abriu-a para dar passagem.
- Bom dia senhor Doutor Juiz, bom dia minha senhora!
Pelo canto do olho, percebeu que o senhor director tinha interrompido a leitura.
Acompanhou, à distância adequada, o par até uma das mesas:
- O Senhor Doutor Juiz vai desejar…?
- Ana Luísa, hoje vai poder apreciar uma especialidade aqui do ArcoBotante e de 4 Montes… Faça-me o favor de nos servir duas torradas, daquelas especiais e dois galões, o meu como sempre e outro mais clarinho.
- Com certeza…
Conforme, Salústrio se dirigia à cozinha para aviar o pedido, ouviu o magistrado dirigir-se ao senhor director:
- Senhor director… permita que lhe apresente uma boa amiga…
Salústrio já estava dentro da cozinha e não tinha linha de vista para a mesa do canto. Mas, nem era necessário… Sabia que o senhor director se tinha levantado, que tinha pegado nas pontas dos dedos da senhora e que, batendo os calcanhares, tinha feito uma ligeira vénia…
- Minha senhora, um vosso criado…
Ana Luísa ficou sem jeito… Nunca lhe tinha passado pela cabeça que aquele homem teria aquele gesto tão fora de moda… Olhou para António Augusto e ele veio em seu socorro.
...
A porta do gabinete de Sua Excelência abriu-se.
- Luís, peça esse orçamento… Para esta semana… E, não se esqueça, máxima confidencialidade… este assunto fica só entre nós! 

(se desejar ler o Cap. 1 clique aqui)


(Estória, em capítulos semanais, aos Domingos)
Aviso: qualquer semelhança com nomes ou situações reais será mera coincidência... Esta é uma obra de ficção, resultado da pouca imaginação do autor.

4 comentários:

angela disse...

Mais isso está ficando cada vez mais misterioso. Já vi que vou sofrer nas próximas semanas.

mauverde disse...

Gostando bastante aqui :)

filipe com i disse...

Salústrio, Felisberta, Café Arcobotante... os nomes são um capítulo à parte no sabor destas domingueiras!

José Doutel Coroado disse...

grato pelos coments...
abs