domingo, 30 de maio de 2010
nada é o que aparece, o invisível sempre estraga tudo
nenhuma redenção
talvez apenas mais
demência
você vive imune na Bolha
mora na Zona Verde de Bagdá
ou pega buso no pé do morro
(Ameno Resedá)?
mas existe fora do Google Maps
algum lugar de não
de mentes que incaptam
o Sistemafodão?
não há limites naturais
para o impensável
o assassinato em massa elevado a arte
performática do século
estranhamente familiares despidas
de afeto belas e amargas crônicas
sobre pessoas vazias de esperança
e sentido
eu você e todos nós
nada fazemos pelas
outras pessoas como qualquer
outra
acontece que ainda estou na pegada
seguindo segundo
a segundo a levada beat
pulso da pulsação
sábado, 29 de maio de 2010
O espólio da senhora Maeda, a moral de Ferlosio e o paradoxo de Bayle (epílogo)
— Rafa, acho que descobri porque é que todas as minhas estórias com mulher enroscam... não, não ri, é sério: eu roubo elas. Verdade cara, sempre acabo ficando com alguma coisa delas e daí resulta que não consigo me livrar depois...
— Putzgrila queridão, você está numas de auto-flagelação hoje! — o charuto apagara e ele revirava os bolsos atrás do isqueiro que jazia sobre a mesa. — Você já considerou o uso regular de um cilício?...
— Pensa bem: ao me apropriar daquele pequeno item da herança da senhora Maeda, fiquei ligado a ela e é por isso que a minha mãe aparece em sonhos me recriminando... hmm, você não está me levando a sério!
— Pelo contrário, lindo, é que simplesmente há outras leituras para o mesmo fato, por exemplo, você pode muito bem ter livrado a japinha de uma relíquia da família que a repudiou: uma libertação ao invés de um roubo, portanto. — tendo finalmente achado o isqueiro, presenteou-se com uma longa baforada antes de prosseguir. — Mas ainda vou mais longe, o que está te acontecendo é um fenômeno comum depois dos cinqüenta: a visitação dos fantasmas torna-se coabitação. Você já reparou como a gente vai tendo cada vez mais flashbacks quando dobra o Cabo da Boa Esperança? Quanto mais vivemos, mais se confundem erros e acertos, ídolos e monstros, personagens do presente e do passado a carregar com verdades e mentiras o cabaz... acho que estou me tornando politeísta, Pepa, o que move o palco das paixões são deuses menores, daimons e deusas caídas... deus com maiúscula?, habita o território vazio da palavra e da morte.
Pedro Henrique avaliou o sapatênis do amigo, que sentou com a perna cruzada sobre a coxa formando um 4 levemente despencado para a frente, enquanto mantinha a mão direita apoiada no joelho dobrado. Fazia apenas dois anos que os estatutos tinham liberado o uso de calçados não estritamente sociais naquele andar da sede, em mais alguns anos se veria sócios em chinelo de dedo no salão nobre do tradicional clube paulistano. — Então nada de um desígnio, uma divina providência, um plano maior para tudo isso, não há um sentido moral no universo, é isso, ou melhor, é só isso a parte que nos cabe neste latifúndio?
— Além do que, imagina, a desproporção de escala entre o indivíduo e o Uno torna a relação entre ambos impensável... só se O interessarmos a título de um circo de freaks, uma diversão grotesca mas ligeira, como um teatro de pulgas ou uma corrida de baratas...
— Gozado aquilo que você falou... tava aqui pensando, sabia que o samurai, primeiro dono daquela escultura que vendi, morreu aos cinqüentinha? Esse não teve tempo de viver acossado por espectros...
— Uma pinóia, guerreiros vivem assombrados por profissão... olha lá, não, do outro lado, tá vendo o Vitché?, tenho uma ótima pra te contar... — Rafael apagou o Lonsdale no cinzeiro de acrílico com o emblema do clube e lançou um olhar de esguelha à bandeja de salgadinhos. — Será possível que você ainda não ouviu essa? Pois então, nosso amigo Vitché Loco e o Barsante, ignorantes ou esquecidos da instalação de câmeras nos vestiários, foram flagrados no novo circuito interno no maior sambarilove, praticando um bola-gato depois da malhação!
— Bola-gato? Ah, ball-cat, boa, boa, hahaha... mas qual deles, digamos, fazia o trabalho de sopro? Hehehe... muito boa essa!
— O Barsante, claro, ah meu amigo, esse sempre teve pinta... vai por mim, homem que sabe distinguir entre fúcsia, pink, magenta e salmão... pra heteros de verdade é tudo ver-me-lho! Não tem essa de azul-royal, roxo ou violeta, é a-zul, companheiro! O devedezinho que tá circulando com o pessoal do pôquer impressiona pelo virtuosismo, um prestissimo assai como há muito tempo eu não via... se abstrairmos o fato de que quem recebe é um insigne vereador desta capital, e o outro, o perpetrador, diretor de estatal, temos de reconhecer o tocante amor à arte que ambos demonstram...
— Bem, enquanto nossos representantes públicos se fodem uns aos outros, não há problema, ruim é quando eles formam societas sceleris e se unem para nos foder. Por que é mesmo que cevamos a pão de ló esses palhaços? Mas, Rafa, voltando: você deixou mesmo de acreditar em Deus?
— A vida útil de um político... é assim, o prazo de validade dos caras vai desde a primeira denúncia até à inevitável segunda carcada, porque é nesse meio tempo que o meliante tenta compensar... bom, já que você perguntou sobre o Big Bang Boss, não é que eu tenha desacreditado, só adotei o Paradoxo de Bayle: é menos perigoso não ter nenhuma religião do que ter uma ruim. Já quanto a acreditanças ou descréditos, é o que te disse, creio no que vejo, e cada vez mais vejo as minhas próprias avantesmas.
Já ia se avizinhando a hora de se juntarem aos amigos do bridge. Pedro, pensativo, gira o gelo em seu Bourbon, absurdo contra o qual o amigo invocara sabe-se lá qual suposta oleosidade do uísque de milho que o tornava tão incompatível à água como a manga à cachaça.
— Sabe uma coisa que lembro de você, meu irmão? Aliás, acho que é por isso que você não consegue entender o verdadeiro significado do que fiz com a senhora Maeda; você é uma boa alma, Rafael.
— Deixa de bobagem, você não sabe o que está dizendo...
— Não, claro que não, lembro que você era único da nossa turma de moleques na rua, lembra disso?, lá na Casa Branca?, você era o único que não tinha estilingue pra matar passarinho. Você é um cara que há décadas mora junto e cuida da irmã da sua mãe e do irmão que nasceu com paralisia cerebral. E já me disse que vai fazer isso enquanto for vivo. Eu não era, e nem sou, como você: naturalmente bom.
Rafael lembrava — como lembrava daqueles tempos! —, com bem mais clareza que o amigo, que, ao contrário, tinha tido sim um estilingue, mas jurara a si mesmo que nunca mais usaria o que quer que fosse contra um ser mais fraco. Na verdade, os seus piores fantasmas datavam desta época. Pensou por um instante se poderia contar para Pedro que ele, o “naturalmente bom” Rafael, e o seu falecido irmão tinham abusado sexualmente do irmão mais novo, o “débil mental” como lhe chamavam. Melhor não. Há coisas que não se contam nem para o melhor amigo.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Um Olhar
Numa quente noite de Verão, bem passada a uma da madrugada, descia uma das grandes avenidas de Lisboa.
Mãos nos bolsos, olhar despreocupado, pensamentos vagueando pelo nada.
A noite tropical trazia-me à pele lembranças de Angola… A falta de uma brisa, por pequena que fosse, os 26 graus, o silêncio… Se o ar fosse mais húmido julgar-me-ia andando pelas ruas do meu bairro de Luanda.
Tinha acabado de chegar do meu tempo de praia no Algarve. Já tinha perdido na memória a sensação de me ver tão moreno. Acho que quando fico assim o calor me produz uma doce sensação de bem-estar, quase impossível de traduzir por palavras.
Além disso, sentia-me cheio de energia e de vitalidade. O sol da praia e o nadar nas águas, por vezes geladas, de Loulé tinham recarregado as baterias para mais uma época de exames na faculdade.
Entrei no restaurante e procurei um lugar para me sentar ao balcão. Não queria demorar muito. Ainda queria dar mais um avanço na matéria.
Vi o João, colega de ano. Sentei-me ao lado dele.
Trocámos conversa de balcão… Patati-patátá… patati-patátá…
O garçon trouxe a lista mas pedi o habitual às terças… Era cliente certinho, tão certinho que até já conhecia de cor e salteado os pratos da casa.
Patati-patátá… Patati-patátá…
Quando me puseram o prato à frente, pedi um fino… O calor estava mesmo a pedir uma bebida geladinha.
Dei um gole e quando ia a pousar o copo… o meu olhar cruzou-se com o da pessoa que estava à minha frente.
Patati-patátá… patati-patátá…
De novo… Meu Deus! Que olhar…
Deixei de dar atenção ao patati-patátá do João.
Responder… eu respondia mas juro que não faço nem ideia do que dizia.
A cor… De que cor? Verdes? Não! Azuis? Não.
O olhar voltou a fixar-se no meu olhar…
Suave…
Doce…
Convite? Será…?
Patati-patátá… Patati-patátá
A pele muito morena… quase cor de cobre, a cor da minha perdição.
O penteado afro, muito fofinho e cheio…
O sorriso lindo, aberto… e
O olhar…
Suspensos ficámos durante… eu sei lá!
Patati-patátá… patati-patátá… O João falava e comia e falava e comia…
Eu… com o copo do fino numa mão… com o garfo na outra ia fazendo que comia…
Patati-patátá… patati-patátá…
O olhar… de novo…
eu só via os olhos… não conseguia desligar…
agarrado, preso…
e querendo continuar preso…
querendo que continuasse… mais… mais…
Patati-patátá… patati-patátá…
Pediu a conta… o empregado recebeu, fez o troco…
Levantou-se…
Patati-patátá… Patati-patátá…
Levantei-me sem pedir a conta e fui atrás daquele olhar…
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Notre Dame
Conversa de Café - pescarias e crianças
Pescarias e crianças
Ia eu a entrar na esplanada do café quando a vi a Anália e a sua filhota, a Eva, que vinham a sair de lá de dentro da sala.
Como sempre, a pequena Eva, nos seus três anitos todos repimpados, mostrava a sua cara alegre.
Cumprimentámo-nos quando reparei que a Eva tinha na mão um objecto qualquer.
- Que é que trazes aí?
- É uma varinha mágica, respondeu-me a Anália, enquanto a Eva ma mostrava. Diz ela que se não nos portarmos bem nos transforma em sapos, não é filha?
Ri-me e entrei no café que o fim de tarde estava demasiado frio para ficar na esplanada.
Ao balcão estava o Vítor, pai babado da Eva.
- Então, que te deu para vires tomar o café a Vilarandelo?
- Viemos dar um passeio.
- Vi a truta que pescaste no Domingo… no blogue até parecia bem grandita!
- Mais de seiscentas gramas…
- Apareceram muitos pescadores?
- Éramos mais de trinta… mas só pesquei duas trutas durante todo o dia!
- Porquê? O Rabaçal já não dá peixe?
O Vítor virou-se para trás porque a Eva lhe tinha puxado pela roupa.
- Pai, a minha Mamã diz para irmos embora…
- Olha, toma a chave do carro e diz à tua Mamã que o teu Papá já vai…
E lá foi ela com a chave na mão…
Paguei o café e o maço de cigarros e saímos, em direcção aos carros, enquanto íamos falando de peixes, de pescadores e de matadores de peixes…
Despedi-me do Vítor e da Anália.
- Adeus, disse a Eva.
- Xau, respondi e, dando-lhe as costas, continuei a andar, que tinha de ir ao caixa automático para sacar dinheiro.
- Pai, ouvi a Eva dizer, vamos embora senão faço de ti um sapo!
A Anália e o Vítor deram uma rizada e eu fiz o mesmo.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
A HISTÓRIA SEM FINS(lucrativos é claro!!!)
Um dia na faculdade de filosofia entrei sem ser convidado[dessa forma tornei um objeto incômodo , desses que entra sem ser convidado pela porta dos fundos] para assistir a aula de um professor, Autor reconhecido no meio acadêmico(ou seja, viadinho de primeira classe!), o professor muito elegantemente escreveu na lousa perto das babacas de plantão(C De LA N) logo pensei [É mais uma do Foucault, dessas que na França sabem soltar uma franguinha nada demais para um gentleman, afinal de contas tudo vai ficar bem no final, só espero não ser convidado para comer seu rabo no Fim da história!].Antes que venha uma vaca dessas dizer que preciso de ajuda só digo uma coisa o meu problema é ser Homem branco de classe média, se fosse africano vocês até me dariam um desconto se fosse milionário me dariam um par de chifres, digo isso porque a escrita é o que me resta diante desse bando de castradas que vão desejar um emplante no fim de tudo isso, só que alegremente digo que esse é o único prazer que jamais vou te dar , o de tornar-se um macho vigoroso.
E meus amigos que me dam medalhas de honra ao mérito, espero que penhorem suas medalhas
bando de viado ,Digo isso com muita vergonha ao ver esse bando de alejado arrastando membros
para perto de mim...
Durante o pouco tempo que estive na faculdade descobri que tudo não passa de um sonho não realizado daquelas psicanalhas que gostam de exercitar seu falo imaginário. Já posso ouvir [maxista, uma delas dizer! ]Hã! Esqueceu do R antes do X analfabeta do tipo funcional é claro dessas que se orgulham em dizer que nós homens só servimos para fazer uma coisa, isso mesmo! A unica coisa que quero fazer é deliciar-me no seu corinho e dormir em Paz!!
Espero estar pegando leve porque se for pesado vai ler Revista Caras! E toque uma punheta se souber o que é isso, e se tiver duvída sobre política vou dizer uma coisa fique satisfeita com minha ditadura!! Vou escerver-lhe sobre os dez mandamentos Agora lei-a com atenção à seguinte enunciação.
1-Amar a mim sobre todas as coisas.
2-Amar a mim sobre todas as coisas.
3-Amar a mim sobre todas as coisas.
4-Amar a mim sobre todas as coisas.
5-Amar a mim sobre todas as coisas.
6-Amar a mim sobre todas as coisas.
7-Amar a mim sobre todas as coisas.
8-Amar a mim sobre todas as coisas.
9-Amar a mim sobre todas as coisas.
10-Amar a mim como a ti mesma.
E se for um trouxa do tipo graduado, vai trabahar que assim você ganha mais para sua mulher pagar
as camisinhas que vamos usar e você vai se sentir lisonjeado de instruir meu filho e dar a Cú para ele quando atigir a maior idade!!!Não há nada mais moderno do que pensar,pensar,pensar e não chegar a conclusão nenhuma, porque afinal de contas para que serve a vida mesmo para responder
a essa pergunta vou ter de pensar mais um pouco(....)
Se você acha que escrever é muito difícil e não gosta de literatura-filosófica, tenho uma receita para você, produza um vídeo a meu respeito e saiba que não lhe devo explicações sobre normas da lingua
portuguesa ou bom modos... Talvez seja melhor você ler contos de fada para continuar enganando a
si . Se eu quiser montar uma banda Punk e você quiser empresariar-me, se for homem (é viado), se for mulher (sinto muito por ti, quem sabe em outra ocasião)...
Eu me considero um expert em Porra nenhuma, sabe Porque?! Não tive tempo de me especializar
porque afinal de contas para que serve tudo isso! Perguntaria um especialista querendo entender
que o trabalho não serve para nada e que o barato é conhecer um pouco de tudo e viver pela rua fingindo procurar emprego e nunca o encontra-lo é claro!!!
Lei-a isso :
In Paris, brilliant nuclear physicist Tom Betterton simply vanishes- The latest in an odd series of disappering scientitis. Defections? Kidnapings? A discrett london office wants to Know...
In Morocco, beatiful bereft Craven accepts a reckless and top-secret assignment. She agress to pass
as Betterton's wife, on a journey to the heart of a global conspiracy- where mere suspicion means instant death..
Essa tira é um fragmento do texto - Destination Unknown de AGATHA CHRISTIE, livro que lógicamente não li inteiro mas gosto de ser intelectualizado e nunca perco a chance de aparecer, principalmente escrevendo sobre autores que não conheço. Gosto de conversar e isso pode incomodar diante da minha facilidade em falar , falar, e sempre não dizer nada...
Bom, para não fugir do papo com um simples dicionário sei que o verbo vanishes= desaparecer.
Kidnapings=sequestrado. Mas pelo pouco que sei de Inglês parece ser uma hisória que se passa em dois países( França e Marrocos), Em Paris um físico nuclear chamado Tom Betterton simplesmente
desapareceu, ele foi o ultimo a ser sequestrado em uma série de cientistas.No marrocos uma mulher
a serviço especial se passa por mulher de betterton em uma aventura no coração de uma conspiração
global.Bom, posso inventar que essa história não merece ser contada em detalhes pois afinal de contas odeio literatura(...)
Peço encarecidamente caro leitor que não me abandone eu sei que o texto é chato, cansativo mas se
eu não for um Best-Seller como vou continuar a escrever?! esta é minha grande paixão.E nossas maiores paixões tem de ser trabalhadas na surdina porque ao falarmos aos outros nossos projetos particulares estamos exigindo o reconhecimento de quem geralmente não quer nos reconhecer...
Mas aí podemos pensar que o reconhecimento só vem do trabalho e o que eu faço não é trabalho
porque pensador na verdade é um vagabundo querendo ficar tranquilo, E em especial hoje época que os “inteligentes”já sabem tudo ,principalmente o que comem, por exemplo ao irem ao supermercado compram carne vermelha (corpos decompostos pelas guerras do narcotráfico na periferia) Frutas cotaminadas por agrotóxicos, porque a terra precisa de mais frutos afinal de contas população mundial está passando fome pela incompetência das fazendeiros em não escravizar seus
funcionários. Os doentes mentais ,ou seja, os “inteligentes” aos quais me referi agora pouco sabem disso e muito mais principalmente se desengajar em uma época em que o sistema precisa deles para
continuar explorando o povo da “nação”,é simples o que “eles” querem é dinheiro mesmo e mulheres para dar e vender.Hoje eu entendo o que é ser bem sucedido na sociedade brasileira viadinho ou puta mesmo, no fundo são tudo igual se trocam por grana. Diante disso tudo só tenho
que agradecer a deus por ele continuar em silêncio, diante disso aí que estamos observando na realidade só resta sabermos onde encontraremos nossas armas de destruição em massa porque provavelmente experimentaremos a lógica do campo.Que campo? você me perguntaria. Eu te respondo o de Auschwitz,financiado por gente do mais alto escalão do “ governo”.
Alexandre Alves (alexandrealaa@hotmail.com)
domingo, 23 de maio de 2010
andorinha
sexta-feira, 21 de maio de 2010
a arte é feita de matéria escura?
sábado, 15 de maio de 2010
TODA PORTA PORTA TUDO
como se o olhar fosse novamente abrir
a noite
fizesse ressurgir as linhas dos telhados
as paredes
as silhuetas das colinas
cai-lhe em cima a boca da vertigem
arrastando
seu corpo tenso prestes
ao dilaceramento
ela quer uivar
arrancar o peso da noite
cheia
encontrará seu caminho
no meio de tantas estradas achará
a porta
entre todas as portas?
TOUTE PORTE
PORTE TOUT
de toutes ses forces elle scrute l’ombre
comme si son regard allait pouvoir ouvrir à nouveau
la nuit
faire resurgir les lignes des toits
les murs
les silhouettes des collines
l’entonnoir du vertige s’applique sur elle
et l’attire en avant
son corps tendu à se déchirer
elle voudrait hurler
arracher le poids plein
de la nuit
peut-elle trouver son chemin
au milieu de toutes ces routes trouver
la porte
parmi toutes ces portes?
quarta-feira, 12 de maio de 2010
deixa a Clementina vadiar!
é a loucura
solidão universal dos videntes
que não aconchambram
não coligam
não arreglam
nem rezam nos cemitérios clandestinos
da ditabranda
o país dos grandes, poucos e bons cresce
inútil e cruelmente
colossos demográficos
emergem do capitalismo sem incômodos
da lei
temos a nova classe C
de conservador
(ninguém merece)
sempre o passito pra trás
sempre os mesmos perfeitos bundões
latinos
verborrentos
bravateiros
Machos Camachos
que pegam, matam e esfolam
mas não têm a coragem de mover
uma palha
então era só isso
sobe os juros
pau nos pobres
periféricos e pardos
rola a roleta da finança
e fodam-se as ilusões
(juvenis?)
meu amor
viva o amor
viva comigo
OBS: projetos de imaginação de renda
soltem as forças produtivas da nação
levem os meninos para a Copa
para a ONU
para Marte
é absolutamente necessário saber perder
com alegria
ousar a glória
com leveza
chega de volantes de contenção
pelo fim da caça às sereias
da Vila
basta desse negócio de jogar com medo
do sonho
queremos fantasia no comando de ataque
da seleção canarinho
queremos a poesia na cabeça
da proa
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Ícaro
sexta-feira, 7 de maio de 2010
SINASTRIA
de quartos
em cada um, 9 zil zilhões de paixões
diferentes
a imaginação
é a louca dessa casa
de tolerância
aquilo que no espírito
se acoita
não pode ser visto
senão
pelos ouvidos moucos
da paixão
o navio no qual nasceste
é uma casca de noz
ATRAVESSIA
nas nebulosas do vir
a ser
deslizas sobre os infinitos
congelados
do incerto instante
solitário é o rumo
rema remador
(a morte vive a moquir
a substância
do não )
nada te sustenta
na falta-a-ser
resta
a capacidade de nadar
o vivente
vivo está por força
do amor
simetria de afinidades
desastradas
só pelo amor
a alma participa
da vida
quarta-feira, 5 de maio de 2010
deixa eu andar descalça
Deixa eu andar descalça nas calçadas,
nas ruelas
e nos becos
que fizeram da infância um lugar mágico.
E mergulhar pelada na água clara
do riacho
que deságua
além das pedras recobertas de taboa.
Deixa eu ter na boca o gosto doce
das goiabas
e das mangas
arrancadas dos quintais circunvizinhos.
E dormir à noite, ouvindo os bichos,
sapos,
grilos,
sonhar talvez, e não pensar em acordar.
Foto: Barefoot
sábado, 1 de maio de 2010
as 3 medicinas: uma lição da Doutora Ivânia
É assim, na linguagem rude dos pronto-socorristas, que se define um plantão particularmente movimentado. O atendimento de urgências de sábado à noite, então, costuma ser a estrela da companhia: há sempre o invariável baleado da noite, os suicidas, as overdoses de drogas várias, os bêbados, ocasionais e contumazes, os atropelados, os mendigos e travestis agredidos, os solitários em crise, as crianças caídas da laje, os simuladores de doenças, os piripaques dos corações partidos ― chamados eufemisticamente de DNVs, distúrbios neuro-vegetativos ―, além, é claro, das tragédias comezinhas dos infartos, crises hipertensivas, ataques de asma, de pedra nos rins, derrames, pneumonias, comas diabéticos, embolias e etceteras que compõem uma típica jornada no PS.
A metáfora bélica não é abusiva, na verdade reflete o clima e a sensação de todos que participam de uma equipe de intervenção de emergência. Às vezes substitui-se o Vietnã da frase acima por Iraque, Bósnia, Afeganistão, Carandiru, Complexo do Alemão, Nicarágua, Sudão, Ruanda ou qualquer massacre que esteja no noticiário. Mas o fato nu e cru é que se trata mesmo de uma guerra; com duas fundamentais diferenças: no hospital luta-se pela vida e, ao contrário das outras, a guerra pela vida parece nunca acabar. Uma UTI também é uma guerra, mas uma guerra fria, calculada, asséptica até certo ponto, de estratégias “diplomáticas” e tecnologias “limpas”; já o PSão de hospital publico é um cenário de batalha campal: há choro, gritos, sangue, fedores indescritíveis, rezas descabeladas, baixeza e heroísmo extremos. É o front.
Naquela noite tinham deixado abertas as comportas do Inferno. A cobertura de um shopping center desabara no final da tarde e um afluxo inacreditável de feridos somou-se à já espessa fauna de habitués do sabadão. Toda a rede de atendimento de urgência pública e privada ficou superlotada, médicos saíam de suas merecidas folgas para ajudar, enfermeiros e atendentes acorriam fora da sua escala para dar apoio aos colegas sobrecarregados, as rádios e os telejornais martelavam informações desencontradas sobre o número de mortos e feridos, parentes faziam romarias desesperadas aos IMLs e hospitais. Uma quantidade inédita de pessoas espalhadas pelas macas, cadeiras e até no chão dos banheiros impediam a circulação no PS da Santa Casa de Misericórdia. Era O Horror, e eu estava lá, interno de plantão da cirurgia.
O curso de medicina dura seis anos; nos dois últimos, o estudante torna-se interno do hospital-escola; passa a acompanhar os médicos assistentes e residentes em especialização nas diversas áreas e serviços. É o batismo de fogo, o duríssimo aprendizado prático da medicina. O interno é rei para os estudantes de medicina e peão para os médicos; tudo que faz está sempre sob a supervisão dos mais experientes e treinados, além do que, não sendo ainda médico de fato, não pode assumir decisões e responsabilidades que competem aos graduados. Mas aquele seria um plantão excepcional em muitos sentidos; fui enviado ao front interno: uma chamada da enfermaria cirúrgica avisava que havia um paciente chocado no 2º andar, o DC2. Com os residentes e assistentes todos em sala de cirurgia, restava mandar dois peões, eu e uma outra interna da clínica, minha colega de turma Ivânia Muniz. Era uma das melhores alunas da minha classe.
Se possível, mandariam um residente depois para nos ajudar. Se desse. Fiquei acabrunhado ao saber que era um paciente operado pela minha área, Ronival, um senhor de 79 anos, cardiopata, operado de uma inflamação nas vias biliares. As cinco grandes áreas cirúrgicas cobriam um dia fixo do plantão de cirurgia no PS durante a semana e rodiziavam os sábados e domingos entre si. Eu estava passando pela área 1, a que cuidava de vesícula, pâncreas, vias biliares e da segunda feira; a área 2, do fígado, cuidava da terça; a área 3 do esôfago e da quarta; a 4, colo-procto, da quinta e a 5, do estômago, na sexta. Tudo isto pode parecer esquisito para os não-médicos, mas que funcionava, lá isso funcionava. Notei que, apesar da hora tardia, havia familiares do paciente no saguão do andar. Chegamos rápido à ala masculina, uma sala ampla à esquerda no final do corredor do DC2.
As enfermeiras se dirigiram a mim, claro, homem, branco (sim, Ivânia, muito antes das cotas raciais, era uma das poucas pessoas “de cor” entre uma maioria de “bem nascidos” e orientais); além do que, era interno da área, eu deveria assumir o comando naturalmente. Só que eu estava com-ple-ta-men-te apavorado.
― Doutor, paciente do leito 203 em choque, pulso irregular, pressão “pinçada” de 7/5 e caindo... já levamos o carrinho de parada para a sala ― ignorada pela enfermeira-chefe, Ivânia ignorou a ignorância, passou por cima da grosseria implícita, reconheceu o meu apagão geral e assumiu com firme delicadeza o controle do procedimento. O senhorzinho agonizava, o rosto pálido como cera, torporoso, respirava em arquejos profundos e lentos, os dedos dele estavam azulados, indicando que o sangue não chegava direito nas extremidades do seu corpo, e o coletor da sonda urinária encontrava-se vazio. Ela aspirou cuidadosamente o nariz e a boca desobstruindo as vias aéreas de um muco seco que se acumulava.
― Pega o ambu, mas antes de ventilar vamos primeiro precisar dar volume pra ele, humm, tá com vasoconstrição... perdeu a veia periférica do soro, provável sangramento interno pós-cirurgia, cardiopata prévio em flutter atrial crônico... entrou em arritmia ventricular e está quase parando... ― formulava hipóteses sensatas e estabelecia condutas em conformidade com elas; caraca, ela já era uma médica de verdade! Um doente do coração em choque hipovolêmico tem dois problemas sérios: primeiro, falta sangue para bombear pelas veias e artérias, o que leva os principais órgãos a “seqüestrar” o pouco que existe dentro deles para se alimentar, portanto, é vital dar bastante soro de modo a manter os vasos expandidos e evitar uma coagulação geral. Segundo, nos cardiopatas crônicos, os átrios do coração já vivem em regime de arritmia, que, se comprometer a verdadeira bomba que são os ventrículos, faz o coração perder o ritmo, a força e acaba parando.
Com as mãos tremendo e o ‘seu’ Ronival agitado, não me foi nada fácil acoplar o bocal do ambu, uma espécie de bexiga em forma de mamão, e insuflar manualmente os pulmões dele. Ela pegou uma agulha de punção e achou de primeira a veia subclávia esquerda, fazendo a seguir um ângulo de 90 graus para a direita e instalando o cateter (intracath) que agora permitia ao coração irrigar com soro glicosado a 5% os tecidos em sofrimento. Entretanto, a enfermeira tinha conseguido realizar um eletrocardiograma que confirmava a suspeita de arritmia ventricular com bradicardia, ou seja, os batimentos do coração tinham caído a 35 por minuto. Abaixo disto, até o cérebro começa a ficar desabastecido de oxigênio e nutrientes.
― Essa mesma, bem fininha, me põe 1 miligrama de noradrenalina ― espetou a seringa direto no equipo de soro; olhou o relógio, em 5 minutos iria repetir o gesto. As drogas jogavam o papel de primeira linha na reanimação cardiopulmonar naquela época, elas estimulam a contração do músculo cardíaco e, até certo ponto, ajudam a estabilizar a pressão arterial. Não estava adiantando; a PA ficou inaudível e a freqüência caiu abaixo de 30 batimentos por minuto. As mãos dele permaneciam frias, da fronte porejava um suor pegajoso e a respiração tinha se tornado rápida e superficial. E então, a primeira parada.
― Por favor, regula pra 300 Joules e já deixa a sonda traqueal aqui do meu lado, tá?... Agora, vamos! ― cada carga sacudia o corpo inerte, a cama rangia sob o peso dos arrancos; nas paredes descascadas da enfermaria em silêncio reverberava o zumbido baixo do desfibrilador. Desfibrilar o coração é como reiniciar um computador eletromuscular apostando numa resposta nos próximos 4 minutos, depois do que, instalam-se lesões neurológicas permanentes.
― Voltou, olha aí, ele voltou... ótimo, estabilizou em ritmo sinusal, a sistólica deu 9?, maravilha, me passa o afastador e o laringoscópio que vamos entubar ― ela pedia, orientava, solicitava, tudo com objetividade e savoir-faire, desprovida da famosa arrogância médica que eu via aflorar em alguns chefes diante das situações críticas. Não elevou o tom da voz uma única vez, não deu esporros inúteis, como se diz no futebol, jogou com a bola no chão e de cabeça erguida; sem um chutão, sem uma canelada. Àquela altura, se ela mandasse, a equipe toda plantava bananeira sem piscar.
“Entubar”, no jargão, significa fazer passar uma cânula da boca para a traquéia, abaixando a glote de modo a não invadir o esôfago, com o objetivo de conectar um respirador que vai inflar o pulmão como um fole. Liguei o Takaoka e comecei a regular a infusão de soro; porém, nada de as coisas melhorarem. A pressão continuava instável e o ritmo também; fizemos duas hipóteses: o miocárdio dava sinais de não estar suportando o esforço e, pra complicar, os remédios que demos para aumentar as contrações também relaxam os vasos, puxando a pressão para baixo. Ivânia aplicou rapidamente o antídoto: atropina.
Como desgraça pouca é besteira, o respirador quebrou ― aquelas malditas geringonças verdinhas engripavam a toda hora!― e, enquanto trocávamos o aparelho, sobreveio a segunda parada. Tudo recomeçou: massagem cardíaca, desfibrilação, ressuscitação, nova parada; nada do que fizemos conseguiu trazer o senhor Ronival de volta. Ficamos 1 hora e 40 minutos tentando reanimá-lo até nos conformarmos com o óbito.
No hall do andar, junto ao elevador das macas e da escada, estavam o filho e o neto dele; descobri que se chamavam Ronilson e Renato. Conversei com eles, expliquei o que tinha acontecido e procurei consolá-los como pude, enquanto a minha colega registrava no prontuário as nossas condutas. Foi a primeira vez que contei esta história: falei da grande médica que brigara como uma leoa pela vida do pai e avô deles até o fim. Saímos pelos corredores góticos que contornam a capela de volta aos nossos postos no PS; eu estava um farrapo humano, uma angústia fodida a me apertar o peito e uma bola de choro que subia e descia na minha garganta. Senti que falhara no teste decisivo, como dizia o Michael Jordan, são os jogos decisivos que separam os meninos dos homens. E eu tinha fracassado; nem menino era, não passava de um enganador de jaleco, um cagalhão.
― Ainda bem que era você que estava comigo nessa.
― Co-como assim?! Você viu muito bem que amarelei na hora H, você sim, mandou muito...
― Que besteira, nós acabamos de ser caçados, ali não teve caçador; perdemos uma vida humana, nada compensa isso, além do mais, eu não tinha condições para dar assistência aos parentes daquele senhor como você fez ― só não caí das nuvens porque me encontrava firmemente atolado na lama.
― Ainda acho que não fui muito útil lá...
― Veja as coisas por este lado, cada um faz aquilo que sabe fazer; se cada um tivesse feito a sua parte direito naquele shopping, não teríamos essa loucura no PS lá embaixo. Há 3 tipos de medicina: a tradicional, que cuida do “antes” da doença, a que estamos praticando aqui, que intervém no “durante”, e a reabilitação, a medicina do “depois”. Você é um médico do “depois”.
Descíamos a rampa ao lado da Provedoria que dava acesso ao conforto médico e terminava no corredor principal do Pronto Socorro Central. Tinha descido ao nono círculo do Inferno, mas descobri que dali não passava; descobri que só no fundo do poço encontramos refletida nossa máscara mais última. Que viesse a Bósnia.
P.S.: Ivânia se especializou em pediatria e ainda pôde salvar muitas vidas antes de falecer em um estúpido acidente de carro poucos anos depois destes fatos. Estúpidas são também as mais de 40 mil mortes por ano em acidentes automobilísticos no Brasil. Ela tinha razão, sou mesmo um cara do “depois”, já que só agora, 20 anos passados, é que sou capaz de fazer esta homenagem à luminosa pessoa que foi Ivânia Maria Barbosa Muniz.