Aldeia dos Quatro Montes
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10
Sua Excelência saiu do carro. Do outro lado, Luís fez o mesmo.
No cruzamento, mesmo em frente ao Lar de idosos, uma equipa de operários da empresa XP estava ocupada em colocar na vertical um poste metálico.
- Vá lá que, desta vez, a obra começa na data marcada, comentou Sua Excelência.
Com o capacete amarelo enfiado na cabeça, o Engenheiro Xavier dava indicações aos trabalhadores. Quando viu chegar o carro da Administração com Sua Excelência a bordo, começou a perceber melhor porque havia tanta pressa nesta obra que, na sua opinião, nem era das que mais falta faziam. Tinha tirado pessoal que estava a concluir uma reparação de uma conduta de água para colocar aqui.
- Como está Sua Excelência?
- Vamos andando… Diga-me… Quando é que isto estará a funcionar?
- Da nossa parte, ficará pronto em dois ou três dias… Depois, há que fazer as ligações eléctricas e instalar o software… Numa semana, no máximo, teremos isto a funcionar.
- Muito bem… Já agora, aquela obra que…
Sua Excelência e o Engenheiro Xavier afastaram-se… Luís, o assessor de Sua Excelência, aproveitou para apreciar os trabalhos. Um camião tinha suspenso da grua mais um dos postes.
- Então, senhor Luís…
Luís virou-se para trás ao ouvir a voz inconfundível do Ti Zé do Quartilho.
- Grande azáfama vai para aqui… Já perguntei aos rapazes o que diabo andam a fazer… Não me diga que vamos ter em 4 Montes uns semáforos?
Luís pasmou que o homem algum dia tivesse ouvido falar em semáforos.
- Então Ti Zé… Sabe como é! Algum dia tinha de chegar a 4 Montes a tecnologia mais moderna…
- Pois sim… Mas aqui não há tantos carros assim… Tirando a hora da entrada da Escola e do Lar, isto é uma pasmaceira!
- Ora aí está, Ti Zé! Se há lugar que mereça este investimento é aqui mesmo.
Aos poucos, foi-se juntando gente. Em 4 Montes, a rotina estava tão bem instalada que qualquer coisa fora do habitual atraía as atenções de todos.
O Senhor Director dava largas aos seus dotes de fotógrafo. Com a sua bela máquina digital tentava encontrar o melhor ângulo. Apesar da idade, pois já andaria para cima dos sessenta, logrou que a grua o levantasse até bem lá cima.
- Obrigado, senhor Engenheiro… Consegui um vista completamente inédita! Aproveitei a ocasião e apanhei o Lar de um ângulo fabuloso… Vai dar uma bela imagem para ilustrar o meu próximo artigo sobre o Lar de Nossa senhora do Ó.
- Ó Senhor Director… Sempre que pudermos ajudar, estamos cá para isso!
O Senhor Director pegou naquela disponibilidade do Engenheiro Xavier, da empresa XP, Xavier e Pato, para sacar as informações pertinentes sobre a obra.
Quando já se preparava para demandar o ArcoBotante deu, de frente, com o Ti Zé do Quartilho.
- Então, bom homem, aproveitando o tempo para ver os outros a trabalhar?
- Com sua licença, Senhor Director, mas só trabalha quem não sabe fazer mais nada!
- Pois, pois… Você é que leva uma boa vidinha…
- Cada um sabe de si… e Deus saberá de todos!
- Olhe… Que me diz desta “coisa”?
- Ó Senhor Director… a única coisa que sei é que a ver tanta gente a trabalhar me deu cá uma sede… vou mas é à Ti Joaquina, a ver se ela me dá um quartilho daquele… do bom!
O Senhor Director riu-se e continuou a caminhada em direcção ao café.
- Caro Salústrio, já sabe da novidade?
- Em 4 Montes as novidades correm mais depressa que um fogo de Verão no restolho… Lá vamos ter um sinal do progresso! Semáforos em 4 Montes… Quem diria?
O Senhor Director foi tomando o seu café (bem curto…) enquanto a conversa corria.
Ana Luísa aproveitara para dar uma esticada de pernas. Pegara num dos muitos livros que António Augusto tinha na estante mas não estava com vontade de ler… Ao sair de casa, reparou num movimento desusado de pessoas e máquinas na esquina da rua.
Dirigiu-se ao ArcoBotante onde encontrou o Senhor Director e o dono numa animada conversa.
- O senhor Salústrio há-de concordar que 4 Montes precisa, diria mesmo, necessita de um toque do progresso!
- Lá isso é verdade… Mas, gastar dinheiro nuns semáforos… Acha que não seria mais bem gasto…
Ana Luísa julgou não ter ouvido bem.
- Queiram desculpar… Para que é que precisam de uns semáforos em 4 Montes?
(Estória, em capítulos semanais, aos Domingos)
Aviso: qualquer semelhança com nomes ou situações reais será mera coincidência... Esta é uma obra de ficção, resultado da pouca imaginação do autor.
5 comentários:
Isso é que é ter fé no futuro...rs
Já vi muitos semáforos e ruas de mão unica em cidades onde carro passa a cada meia hora.
Vou aguardar o próximo domingo.
vc anda a misturar atualidade e folclore, magistral!
grato pelos coments.
abs
Jose...
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