quando Katherine Dreier pediu a Duchamp
que produzisse um objeto para a irmã
ele lhe entregou uma gaiola contendo
cubos de açúcar
um termômetro
mármore
e um osso de ave marinha, dizendo
Por que não espirrar?
nada permanece
na alma
nem mesmo a exaustão
o vazio
então, por que não fazer qualquer coisa?
como espirrar
irritação que cresce borbulhando
cócegas
e acaba numa explosão climática
e úmida
eu que vivi sem pátria
eira ou beira
ao ócio do sonho
entregue
que vivi somente ao sol
de Espanha
condenado a ser todas as coisas
e as sombras que elas sonegam
ser a sombra das tuas coxas e da tua boca
valvulada
as panturrilhas e a curva macia dos cotovelos
erguer o ventre não é nada fácil
ainda mais depois de espirrar
depois de descobrir que o mundo é uma fachada
onde se movem enganosos autômatos
eu que vivi em todos os lugares
e fui todas as pessoas
a rota de todos os navios perdidos
percorri o éter de planeta em planeta desfolhando
a intocada flor do futuro
na casa da poesia procuro
andar na ponta
dos pés
temo despertá-la
acordar seu tamanho
imenso
ao menos aprendi
EROS É A VIDA
3 comentários:
Ficou bom. A sombra como metáfora está muito bem usada tanto na falta como na presença.
eros, o tecelão de mitos - já dizia Safo. tks, companheira
Caro Missosso,
gostei!
cito:
"na casa da poesia procuro
andar na ponta
dos pés"
muy bueno!
abs
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