quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Aldeia dos 4 Montes - Cap. 18

Aldeia dos Quatro Montes




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18

Sua Excelência conhecia bem os seus eleitores. Sabia que as expectativas criadas a propósito da instalação dos semáforos o obrigavam a fazer um discurso que colocasse 4 Montes a não falar de qualquer outra coisa durante, pelo menos, uma semana.
Falou-lhes ao coração…
Puxou-os para o lado dele, para que percebessem as dificuldades que a Administração atravessava…
Sua Excelência lembrou-lhes, como se fora necessário, que só estando todos unidos poderiam atingir os altos objectivos a que ele se propunha…
Sua Excelência sabia que não arrancaria aplausos a cada tirada… Não era isso que ele queria. Precisava que todos o escutassem com atenção… Que estivessem pendentes das suas últimas frases, quando lhes apresentasse as suas ideias para o futuro próximo…
Antes de entrar na fase decisiva do seu discurso, Sua Excelência olhou para toda aquela gente que tão bem conhecia… Anotou, mentalmente, todos os que não estavam ali a ouvi-lo… Bom, pelo menos, os que ele achava mais capazes de o incomodarem.
Durante um largo meio minuto, ficou a olhar, olhos nos olhos, aquele povo, o seu povo.
- 4 Montanos! O futuro…
 E foi por ali fora… Percebeu que os levava com ele… Notou nos olhares deles que estavam agarrados ao que lhes dizia…
Estava na hora de terminar.
- Viva 4 Montes!!
Silêncio…
Logo de seguida, alguém gritou viva!!, a que seguiram mais vivas e farta colheita de aplausos.
Sua Excelência abandonou o parlatório e foi, imediatamente, rodeado pelos seus seguidores mas, principalmente, pelas pessoas para quem ele tinha falado.
O Senhor Director aproveitou e tirou uns bonecos aos abraços e cumprimentos mais efusivos.
Luís, o assessor, sabia que tinha chegado o momento de passar à fase seguinte.
- Minhas senhoras e meus senhores, Sua Excelência convida-os a dirigirem-se às mesas para continuarmos este saudável convívio.
Pedro, António Augusto e Ana Luísa tinham-se mantido nos mesmos lugares. Tinham aplaudido no final do discurso e ficaram em silêncio enquanto assistiam ao show de beijinhos e abraços, como tinha anunciado Pedro.
António Augusto foi o primeiro a falar.
- Belo discurso! Sua Excelência tem o dom da palavra e sabe adequar-se à plateia que o ouve…
Pedro tentava encontrar as palavras certas.
- O problema dele nunca foi o de não saber falar, e bem, em público!
Ana Luísa, que tinha ficado com uma opinião muito positiva do discurso, olhou para Pedro.
- Ana Luísa, tenho de ir dar uma palavra a Sua Excelência. Vem comigo?, questionou António Augusto.
Pedro convidou-os a irem tomar um aperitivo ao ArcoBotante e desandou para o café do pai.
O Senhor Director, ao ver que Pedro se ia embora, fez-lhe um sinal a convidá-lo para que se juntasse a ele.
Pedro acenou-lhe negativamente e continuou em direcção ao Largo da República.
Salústrio estava no passeio, bem em frente à porta do café. Mãos nos bolsos, o olhar acompanhava os poucos velhotes que tinham deixado a função.
- Então, não ficaste para provar a petiscada?
Pedro nem se dignou responder-lhe. Entrou, dirigiu-se ao balcão e sentou-se num dos bancos.
- Queres um café?
- Prefiro um Favaios.
Salústrio baixou-se e tirou uma garrafa que estava guardada de forma a que não fosse vista por quem estivesse ao balcão.
Pegou num cálice e serviu generosamente.
- Prova este…
Pedro, primeiro, chegou o bordo do cálice ao nariz e aspirou ligeiramente. Gostou dos aromas e depois deu um golo, melhor dizendo um golinho… Depois, outro, maior.
- Que é Favaios, é! Mas é muito melhor do que qualquer outro que já bebi…
- Ah… Eu sabia que ias gostar! Este tem uma boa dúzia de anos…
Abriu-se a porta do café e entraram António Augusto, Ana Luísa e o Senhor Director mais a sua inseparável máquina, a tiracolo.
- Um café…, pediu o Senhor Director.
- Curtinho, como sempre!, arrematou Salústrio.


(Estória, em capítulos, aos Domingos e Quartas)
Aviso: qualquer semelhança com nomes ou situações reais será mera coincidência... Esta é uma obra de ficção, resultado da pouca imaginação do autor.

2 comentários:

filipe com i disse...

que borga este trio: pedro, ana luísa e antónio augusto; deste mato sairá coelho, tenho cá pra mim.

José Doutel Coroado disse...

Caro Missosso,
Coelho?!..
Até que é boa ideia...
abs