sábado, 13 de novembro de 2010

ô disse eu

o fato é que estou cada vez mais desatento
cada vez mais bipolar
mais hipertenso
menos

conectado

a verdade é que não acredito
mais
na verdade
(desacreditei até do beijo francês)

não acredito mais em jornais
promessas de deuses
longínquos
ou vizinhos

só continuo vivo por esquecimento
indecisão
e uma praticidade mesquinha que me leva
a fazer sempre as mesmas
poesias

ao mesmo tempo em que acredito em tudo
(TUDO pode acontecer)
nada me apavora
mais

o fato é que não inventei a novidade
do milênio
permaneci quieto e resignado enquanto meu país
deixa
que homens e mulheres escrevam de uma maneira perfeitamente
controlada

as minhas palavras não funcionam
não são antenas da raça nem
antecipam
futuras gerações ou desenvolvimentos sociais
e técnicos

falta uma espécie de energia aquela
que sobra nesta época
desabrocham as gardênias
acres damas-da-noite
atenuadas pelas magnólias manjericos
e jasmins
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7 comentários:

angela disse...

Nem beijo frances anima?
Há que inventar outro beijo
grego
chinês
puro
ou
obsceno
qualquer um
que liberte
o perfume
o sopro
a palavra

José Doutel Coroado disse...

Caro Missosso,
gostei do poema, não gostei da atitude subjacente:
"só continuo vivo por esquecimento
acomodação
e uma praticidade mesquinha que me leva..."
Êta coisinha triste! Tá tão mal assim?
abs

filipe com i disse...

o perfume do poema atenua os espinhos das flores, nesta altura do ano...

Aili disse...

Total desequilibrio!
Momento rico. O encontro do eu , de mim , de tú.

Como sempre,linnnndo!

filipe com i disse...

pois é maria. o encontro do-eu, a melancolia é um perfume que jas-min...

Dalva M. Ferreira disse...

Prá não dizer que não falei das flores...

Anônimo disse...

Que texto primoroso!
Imprimo para Teresa, que um dia o lerá.
Gracias,


V.