terça-feira, 2 de novembro de 2010

Pra Começar a Conversa

Francis Bacon- Full

Conversar nem sempre é coisa fácil.

Já custou muitas vidas e ainda custa.

Crime de opinião é coisa antiga, infelizmente e a intolerância ainda assombra nossas vidas, desde um passado não muito longínquo.

Quando a conversa é para valer é sempre difícil, expor idéias, abrir o coração, ser sincero.

Começa pelo receio das conseqüências do que vai se dizer, de não ser ouvido, de não ser compreendido, do outro não se interessar, de mudar de assunto ou falar que aquilo é uma bobagem, quando para você é coisa seria.

Já viram como é comum desconsiderar a palavra de uma criança, de um idoso, de um subalterno? Como muitos não se dão ao trabalho nem de prestar atenção no que elas dizem? São pessoas que vão ficando invisíveis. O mundo está cheio de seres invisíveis e não são fantasmas nem anjos nem extra terrestres são humanos mesmo.

Acontece em alguns momentos deles serem ouvidos e aí acontecem coisas perturbadoras surgem os “caseiros” as “secretárias” as “amantes” os “motoristas”, mas para cada um desses existem inúmeros mudos. Entre os invisíveis estão os doentes mentais, portadores de visões desconcertantes da realidade, costumam carregar alguns “pecados” imperdoáveis na nossa cultura: baixa produtividade, poucos limites, conduta social as vezes ”inadequada” e perturbadora. A solução encontrada por muito tempo foi o confinamento para tratamento o que demonstrou-se ineficaz. Não curou só afastou o incomodo do meio social e isto é reconhecido pelo OMS, não sou eu que o digo. O profissional que cuida desses pacientes fica de certa forma identificado com ele e é visto como uma mistura de sábio e louco.

A pergunta que fica é por que se dar o trabalho de conversar?

E não tenham duvidas que é um trabalho e tanto, as vezes nem sabemos por onde começar a conversa.

Só posso dizer que é por aí que a vida enriquece, que apresenta ângulos novos, visões diferentes, que saem da mesmice, que sacudir a poeira pode valer a pena.

A proposta da revista Lowcultura é esta. Ela foi escrita por profissionais, artistas, filósofos e doentes mentais sem identificação e não precisa falar sobre loucura é só conversar sobre a vida. Ela estará aberta a contribuições e a leitura online logo mais e já pode ser seguida.

Nós só queremos conversar.

3 comentários:

filipe com i disse...

Caracoles! E só agora é que descobri o verdadeiro rumo editorial da revista... antes tarde do que nunca.

Lídia Borges disse...

Muito interessante!
Cada vez é maior a multidão de invisíveis.Penso até que todos podemos sê-lo a dado momento e a palavra redentora tarda, quantas vezes.

Um beijo

Dalva M. Ferreira disse...

Bacana! Até porque numa sociedade surda, nem todos alçam a voz até o ponto de se fazerem ouvidos.