quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sair da cena – o amor em Agostinho



Não sei da paciência do leitor para aprofundar uma questão, mas, aproveitei a noite impossível de dormir para repetir uma: tudo bem, os εiδος de Aristóteles, species em são Tomás, são como idéias platônicas, só que nesse mundo mesmo. Mas, o que significa afirmar, como Heidegger não se cansa, que o εiδος é a lembrança do ser? e o que é o ser?

Vamos aos poucos. Pode-se pensar o εiδος, posto que ele tem tudo a ver com a visão, como um ver-como (veja o Wittgenstein de Giannotti). Isso significa que o εiδος não é, apenas, o que é visto, nem mesmo ele é nossa capacidade de visão, o εiδος mostra como ver algo. Para Aristóteles, ele é eterno, como as idéias de Platão. Ou seja, uma vez que aprendemos a ver-como o εiδος nos mostra, podemos sempre ver daquela forma. Ainda segundo Aristóteles, o ser é potência, e, como tal, traz em si a perspectiva do negativo, do não-ser, do desaparecer. Ora, um εiδος que me aparece, mas que está em ligação permanente com um desaparecer em potência, não faz a apologia da imagem, faz a apologia do ver-como. Não é que o εiδος lembra o estrangeiro que volta à caverna, só que bem recebido.


Então, Agostinho é meu gato camarada, ensinou e aprendeu comigo e com meus amigos a quebrar timidez e frieza com colo,
a sair correndo engraçado de cachorro grande, a pedir carinho fazendo carinho, a desrespeitar corajosamente regra besta, a fazer cara de tédio indicando que eu poderia fazer melhor, a vir correndo ao meu encontro cada vez que me encontrava, a tirar
o lençol em dia de domingo com sol, a comer papinha de bebê e a chorar ouvindo Billie Holiday. Como εiδος, Agostinho não nos prende a sua própria imagem, ele semeia minha memória com os aspectos da amizade.

7 comentários:

Anônimo disse...

Complicado para um leigo, não sei o que é "eiooç". De qualquer modo se ele está voltando, então não seria mais um estrangeiro.

Climacus disse...

texto difícil, né? de quem não dorme a tempos. quis dizer que Agostinho ensinou a amar, não só a ele, ensinou, simplesmente a amar, cobrando o amor da gente. abração.

Anônimo disse...

E não é que nós talvez sejamos muito mais próximos aos gatos do que pensa nossa “ingênua” filosofia? Sábia e atenta Regina Rebollo, quando fala de seu amor pelos felinos!
Também eu sinto enorme e inexplicável atração por eles.
Também eu choro ouvindo Billie Holiday (aliás, verdade está tão tautológica quanto atual, diga-se de passagem...)
Também eu peço carinho fazendo carinho e me ponho a desconstruir, mesmo que em vão, regras bestas...
Seja por admiração, identificação ou simples humanidade, penso que também eu, mesmo sem tê-lo conhecido, começo a compreender a saudades que o pequeno Agostinho deixa aos de cá, do mundo da matéria.

filipe com i disse...

agostinho, companheiro-bicho, amigo-ente, que a terra te seja leve e a eternidade um sono.

Anônimo disse...

Paulinho, o Agostinho deixou as melhores marcas e mudanças na sua vida, assim como estou certa vc deixou na dele. E que venham outros bichinhos, que nos ensinam a "ver". Lucyla

Anônimo disse...

Agostinho,
Como poderia confessar ser sua devotee?

Claire disse...

nossa que graça essa foto! ehehe
adorei o blog.....vou segui-lo!!!
Adoro suas aulas Paulo!!depois vou ler com calma o blog!

beijao!

www.anatomiadopensar.blogspot.com