domingo, 15 de agosto de 2010

Outros Tempos

Sua idade era indefinida, para as crianças só existem três idades, a delas, a dos adultos e a dos velhos. Então para elas ele era um adulto e elas tinham certo receio dele.

Na pequena cidade de ruas largas e arborizadas as crianças corriam soltas, os carros eram poucos e os perigos passavam longe. Seus medos ficavam por conta das histórias de assombrações, dos castigos dos pais, das ameaças do padre e claro, da imaginação deles próprios.

Era nesta ultima categoria que entrava a figura do barbeiro da cidade. Um homem magro de meia idade, estatura mediana, cabelo preto penteado para trás melado de brilhantina, não saia um fio do lugar, só saiam em mechas, bigodinho fino bem aparado. Vestia-se sempre de calça preta social e camisa de manga comprida branca, apesar do calor que lá fazia. Uma roupa surrada, mas bem lavada e bem passada, tinha uma maleta preta onde carregava seus instrumentos quando ia atender algum cliente na residência. Até aí era como muitos, mas a unha do dedo mindinho... Era onde residia o inusitado, era grande, muito grande, maior que a das mulheres. Uma única unha grande e este detalhe causava todo o temor e atiçava a imaginação.

Não entendiam como os pais iam à barbearia e ficavam por lá folheando revistas, conversando e rindo e os rapazes também gostavam. Parecia que tinha um feitiço que tendo entrado uma vez voltariam toda semana. Os meninos prometiam entre si que nunca iriam por os pés naquele lugar, mas ardiam de curiosidade e assim foi por muitos anos. Quando a barba ficava espessa o pai levava o filho à barbearia e o pronto. Acontecia de novo.

Os tempos mudaram as revistas de nu feminino começaram a ser vendidas na banca, falava-se de sexo mais livremente e o feitiço da barbearia acabou.


(foto retirada do Google-Capa da Primeira Playboy- 1953-Marilyn Monroe)

6 comentários:

filipe com i disse...

a-do-rei este personagem!! boa companheira, conto também é sua praia.

Gociante Patissa disse...

Gostei do texto, do tema e da forma.
Abraços

Aili disse...

Minha avó me dizia que aqueles é que eram os bons...os tempos!

Gostei, me fez lembrar de um momento importante.

angela disse...

Missosso pode usa-lo se quiser e obrigada.

Gociante Obrigada pela leitura e comentário.

Maria Tempo bom é aquele que se vive. Que bom que lhe trouxe recordações.

José Doutel Coroado disse...

Cara Angela,
gostei!
felicitações.
abs

angela disse...

José Doutel
obrigada
abraços