Aldeia dos Quatro Montes
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Ana Luísa entrou na Pensão Moderna, usando a porta que dava para o mini-mercado. Fez-lhe uma certa confusão aquela casa. Nesta porta era mercearia, frutaria e sabe-se lá mais o quê. Logo ao lado, passara por uma entrada para o café e que dava também para a sala de refeições… E se tinha o nome de Pensão, haveria de ter alojamentos para hóspedes!
No entanto, apreciou o esmero que se via na meticulosa arrumação de todos os produtos…
Vinda lá do fundo da loja surgiu uma moça.
- Bom dia, minha senhora! Em que posso ajudá-la?
Ana Luísa perguntou se tinham lenços de papel perfumado. Com a compra feita, colocou os óculos de sol e voltou à rua. Ao sair da porta, quase era abalroada…
A Ti Joaquina, pois dela se tratava, para evitar o embate, deixou cair uma caixa que trazia nas mãos. Ouviu-se um tilintar de moedas que se espalharam em todas as direcções. Para baixo das prateleiras, para o passeio… Umas rodavam sobre si próprias, outras tiniam…
- Ó minha rica senhora! Então…?
- Ora essa… A senhora não tem cuidado e ainda se atreve…
- Ó minha senhora! A senhora anda-me aí com esses óculos de tapar a luz e depois sou eu que não tenho cuidado? Está bem, está!
Ana Luísa olhou para a Ti Joaquina, tirou os óculos de sol, voltou a olhar para ela… Virou-se e foi-se embora…
A Ti Joaquina ia atrás dela mas a moça pegou-lhe pelo braço.
- Senhora Joaquina… Sabe quem é a senhora? É a senhora que ontem andava a passear com o Senhor Doutor Juiz!
- Pois olha… Tem que aprender maneiras com ele! Onde já se viu? Quase me atropela e ainda se acha cheia de razão! Toda enperiquitada… Até parece que tem o rei na barriga…
- Deixe lá!
- Ai, deixo, deixo… olha, apanha os trocos!
Esbaforida, a Ti Joaquina dirigiu-se ao café.
E quem havia de estar ao balcão?
- Ti Joaquina…
- Olha o meu engenhocas!
Como sempre fazia, pespegou-lhe um beijo em cada face e agarrando-lhe o rosto nas duas mãos, pôs-se a olhar bem para ele.
Pedro, como sempre lhe acontecia, ficou vermelho que nem um pimento.
- Então como é que vai o meu engenheirinho? Chaga assim de repente… Não diz nada… Quase me mata do coração!
Quando acalmou esta manifestação de mimos, lá ficaram a conversar…
Maria, que tinha dado uma espiadela através da janela da cozinha, percebeu que a conversa se tornara séria… Agora, os dois falavam mais baixo. Logo a seguir, a Ti Joaquina agarrou nas duas mãos de Pedro e depois deu-lhe um abraço bem sentido.
- Raio de vida, rapaz! E agora que é contas fazer?
- Vou ficar por aqui uns tempos…
- Fazes bem! Estes ares puros de 4 Montes vão-te pôr fino… O tempo tudo sara!
- Diz bem, mas não tem sido fácil…
- Pedro! A vida tem sido boa para ti… Agora chegou a tua vez de saberes enfrentar essa desgraça… Olha, queres um café?
Levantaram-se os dois da mesa. A Ti Joaquina passou para trás do balcão, tirou o cachimbo da máquina do café, encheu-o, prensou-o e virando-se para trás perguntou se o queria como sempre, curto.
Pedro disse que sim.
Maria veio lá de dentro, da cozinha. Pedro olhou para a moça que se aproximava dele e, a princípio, nem a reconheceu.
- Engenheiro Pedro, como está o senhor?
- Maria…
Pedro estava embasbacado. A rapariguita que vira há não sei quantos anos, transformara-se numa senhora mulher. Bonita, cabelos negros, bem proporcionada de corpo, com as curvas nos lugares certos, olhar seguro mas doce… O sorriso meio tímido pedia que ele dissesse qualquer coisa…
- Puxa… Estás uma mulheraça! Dá cá um abraço!
A Ti Joaquina colocou a chávena do café no balcão fazendo mais barulho do que o necessário.
Ela bem sabia quem tinha em casa.
(Estória, em capítulos semanais, aos Domingos)
Aviso: qualquer semelhança com nomes ou situações reais será mera coincidência... Esta é uma obra de ficção, resultado da pouca imaginação do autor.
2 comentários:
Já sinto cheiro de encrenca...rs
Vou ter que aguardar...aí
é como o cheiro do café, há matroca no ar... as subtramas vão se armando.
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