terça-feira, 18 de novembro de 2008

presente de nascimento


Foto de divulgação do filme A liberdade é azul de Krzysztof Kieslowski

“Se com angústia no ânimo recém-ferido
alguém aflito ensombra o coração e se o aedo
servo das Musas canta a glória dos antigos
e os venturosos Deuses que têm no Olimpo,
logo esquece os pesares e de nenhuma aflição
se lembra, já os desviaram os dons (dora) das Deusas.

Alegrai, filhas de Zeus, daí ardente canto,
Gloriai o sagrado ser dos imortais sempre vivos,
os que nasceram da Terra e do Céu constelado,
os da Noite escura, os que salgado Mar criou.”

(Hesíodo, Teogonia, vv. 98-107).


É simples assim: doreá, dádiva, dom, é um presente de nascimento, posto que inaugura um começo. Não custa caro, uma pessoa pode ver, escutar ou pressentir um dom noutra pessoa, e presenteia. Sendo um dom, a doreá vem do passado, mas, se fará presente no futuro. Por isso, a doreá é passado e futuro, que se dá de presente (era isso que Platão e Aristóteles procuravam com suas reminiscências: presentes de nascimento).

{na falta de melhor filosofia, antropologia ou psicanálise, qualquer presentinho pode fazer esquecer que a outra pessoa não te escuta}.


9 comentários:

Anônimo disse...

How wonderful...taking it for me!

Climacus disse...

justamente, como dar o que não se tem?

Flávia Regina disse...

Meu, muito louco este jogo de palavras: "...a doreá é Passado e Futuro, que se dá de PRESENTE."
Eu fiquei pensando:
Podemos interpretar a palavra "presente" tanto como "tempo", quanto como "oferta de algo bom"! Lindo! =)

Climacus disse...

pois é, essa é a tese de um livro de Derrida: Dar o tempo.

Beatriz disse...

Beleza, amigo!

filipe com i disse...

certeira a observação da Flávia, dar o presente, ou um presente, atualiza o passado e presentifica o futuro. Muito á propos!!

Anônimo disse...

qualqer presentinho pode ser

"qualquer amor já é
um pouquinho de sossego,
um descanso na loucura"

disse o joão guimarães rosa.

e eu

um amor que te escuta.

julieta.

Anônimo disse...

Qualquer amor? r u mad?

Anônimo disse...

jawohl !