quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A sedução da verdade - o engano




Foto do espetáculo "Beeld behorend bij"
do grupo Nederlands dans theater ballet



"Seduzidos pela sua beleza, os homens envolverão de amor essa peste que lhes foi enviada, que eles não podem suportar, mas sem a qual não poderiam viver: é o diferente e a companheira dos homens. Réplica à artimanha de Prometeu, Pandora é também uma astúcia, um engodo, um dólos (artifício), o Engano feito mulher,
a Apaté (descaminho) sob a máscara da Philotés (amizade).
Ornada por Afrodite com uma irresistível kháris (dom), dotada por Hermes de um espírito enganador e de uma linguagem falsa, ela introduz no mundo uma espécie de ambigüidade fundamental; entrega a vida humana à confusão e ao contraste."
(Vernant, Mito e pensamento entre os gregos, p. 72).

Feita de barro, Pandóra (pãn - todo + dõron - presentes)
é a primeira mulher. Ela é a verdade (alethéia), aquela que não se esconde. Compreensível que ela tenha que nos enganar para seduzir, ela é um presente divino que nos dá o que não se tem.

9 comentários:

filipe com i disse...

a sedução da verdade, a verdade da verdade, opera por fintas e dribles e esconderijos imprevistos -- que fantástica via vc abre aqui p.h.!

Anônimo disse...

"...o Engano / Apaté (descaminho) sob a máscara da Philotés (amizade). Ornada por Afrodite com uma irresistível kháris (dom), dotada por Hermes de um espírito enganador e de uma linguagem falsa, ela introduz no mundo uma espécie de ambigüidade fundamental; entrega a vida humana à confusão e ao contraste."

que maravilha!
quer descrição mais bela de uma mulher do que esta?

"ambiguidade fundamental"
"entregar à confusão e ao contraste"
"descaminho disfarçado de amizade"

isso é uma delícia!

viva, viva!

Climacus disse...

pô, agora que eu entendi, a mulher do Vernant devia ser um troço. Só uma mulher para mostrar a beleza de outra mulher.

Anônimo disse...

A sedução da verdade, que lindo amei!!!

Anônimo disse...

Engraçado... a mulher traz a confusão e, ainda por cima, engana e ludibria para dar aos outros (homens) o que eles não têm - ou o que ela mesma não tem?! Parece-me que não há uma troca mas só uma entrega onde os únicos a fazerem concessões são os homens. Há um domínio da ambiguidade da mulher que não deixa ao homem escapatória, ou ele deixa-se envolver *por uma fábula* e passa a seguir um descaminho e ama quem o descaminha ou ele não cai de jeito nenhum (na fábula)porque percebe que é só mais uma dentre tantas e, justamente por isso, ele pode deixar-se enganar unicamente por aquela que lhe dá uma verdadeira fábula, um descaminho verdadeiro. sem disfarces, jogos ou coisas assim... é só o que eu penso.

Climacus disse...

ocorre da verdade ser uma palavra feminina, em grego, inclusive, além disso, não creio que haja tanta diferença entre homem e mulher, procuramos todos o engano, não?

Anônimo disse...

absolutamente, Antônio. dê forma alguma todos procuram o engano. penso que procuramos todos a felicidade e que ela nunca estará em um engano.

na minha opinião, se convencem disso apenas aqueles que dão ao engano o valor de verdade. logo, se dão ao engano valor de uma verdade ele nunca foi engano, sempre foi certeza. sendo assim uma verdade,não? não importando quanto fábula ele fosse. quando nos convencemos de que algo é verdade não podemos depois, ao descobrir que era apenas uma forma de sedução, dizer que era engano. não me parece coerente. enfim, só mais uma opinião.

um abraço.

Climacus disse...

é, não parece ter sentido, mas penso o mesmo que você, um abraço.

Anônimo disse...
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