Foto: Nídia de Castro Bastos
Por mais inconsistente que seja, é necessário forjar uma historieta qualquer que nos justifique perante nós mesmos, ainda que já tenhamos caído em total descrédito na consideração de todos os outros. A confissão íntima da própria iniqüidade desencadeia a autólise, portanto, é necessário a mentira, a ficção, o desvario, como estabilizadores da ipseidade. Um lapso de língua, um engodo, um equívoco ou um ruído de comunicação revelam e renovam sentidos antes ocultos — a experiência interna, por outro lado, é muito mais e muito menos que uma performance: representar-se o mundo é uma aventura que exige a parte da sombra; fazer mapas de si, das coisas, dos outros, reconstruir o mundo “por imagens, por eflúvios, por afeto”, é a paixão de dupla face que une precisão e ambigüidade. Só podemos surgir de dentro do engano e da mistificação mais grosseira.
2 comentários:
gosto do seu radar visceral sobre a vida. um beijo.
unidos por uma aliança à representação do ódio, por um instante ao menos, não precisaremos nos esconder em sombras e enganos do que fingimos não ser.
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