sexta-feira, 29 de agosto de 2008

a modernidade líquida


No banco traseiro, Cauê, 7 anos, está absorvido no seu Gameboy com batalhas e conquistas, na direção do SUV prateado, Selma, 44 anos, sente-se mais segura para encarar o engarrafamento de um ponto de vista mais elevado. Tudo conspira para um encaixe perfeito: deixa o filho no buffet infantil às quatro, passa no shopping para trocar um sapato e chega na esteticista às cinco para uma hidratação capilar com manicure e podóloga; sai de lá às seis e pouco, já contando com o trânsito de fim de tarde, para pegar o menino às sete no buffet.
Sete e dez está na porta pedindo ao moço do valet para chamar o garoto no auto-falante. Ele aparece minutos depois com a lembrancinha na mão.
-- E então Cacá, 'tava boa a festa?
-- Hu-hum... boa...
-- O Jonas e o Lucas Carini foram?
-- Não...
-- Ué, como assim, você não brincou com os seus melhores amigos?
-- Fiquei nos videogames, aí fui no pula-pula, aí fiz escalada com o monitor. Não tinha ninguém da minha classe...
Selma bate as costas da mão na testa (Cauê conhece bem aquele gesto), procura o convitinho no console: a festa era em outro bufet na mesma rua. Ela hesita alguns segundos e resolve mudar de assunto.

2 comentários:

Daniele Thièbaut disse...

Excelente sacada!

Jamila Maia disse...

muito bom... me fez lembrar pessoas que eu encontro nos buffets (nas festas certas, hehehehe!)