segunda-feira, 1 de setembro de 2008

de onde veio a LIBERDADE?

Foto de Jotacê Abreu

A liberdade nasceu com a magia, a poesia e o excedente de produção.


A cultura é o que dá forma e problematiza a vida comum de um povo.


Toda sociedade, portanto, deve perpetuar e se defender das criações de sua própria cultura.


Artistas ― dançarinos, artesãos, contadores de histórias, inventores, profetas ― não criam realidades sociais e, sim, possibilidades de existência.


Artistas não criam objetos, artistas criam por meio de objetos.


A criação não conclui o mundo, ela engendra mundos.


Por isso a cultura nunca estabelece um catálogo completo das atividades válidas para a sua construção.


Museus não foram feitos para levar a arte até às pessoas, mas para manter as pessoas longe da arte.


Sociedades vivem dentro de fronteiras definidas, a cultura move-se continuamente para fora delas.


Não se pode olhar para o horizonte porque ele é somente o limite daquilo que a visão alcança.


O horizonte não contém nada em si, apenas se abre para além das nossas limitações.


Nunca alcançamos o horizonte: deslocar-se em direção a ele é simplesmente descobrir novos horizontes.


Estar em um lugar significa tornar absolutos o número, o espaço e o tempo.


Ninguém sabe para onde vão os nômades.

9 comentários:

Climacus disse...

“Aqui entre nós (porquanto não ireis contá-lo aos poetas trágicos e a todos os outros que praticam a mimese), todas as obras dessa espécie se me afiguram ser a destruição da inteligência (diánoia) dos ouvintes, de quantos não tiverem como remédio (phármakon) a experiência do reencontro com o real (tynkhánei)” (Platão, Politeía, 595a).

“A imagem do reencontro com o real (tynkhánō) é eterna (aiōn), mas seria impossível adaptar essa eternidade à mortalidade. Por isso, seu autor preocupou-se em criar (poiēsai) uma imagem móvel desse reencontro com o real eterno. Ao ordenar o céu, da eternidade una e imóvel fez esta imagem do eterno que progride segundo a lei dos números, a isso chamamos tempo (khrónos).” (Platão, Timeu, 37d-e).

tynkhánō – alcançar ao acaso, reencontrar o real, realizar, produzir.

producere - pro – em frente, adiante + ducere – lançar, conduzir = conduzir em frente, fazer avançar.

filipe com i disse...

caro Paulo, só falta vc me explicar pq o companheiro Platão excluía os poetai da sua República, que tal?

Climacus disse...

No romance de Bioy Casares, Morel é o poeta que faz as mesmas cenas se repetirem eternamente. Acho que ele é um tirano, mata os outros para que eles caibam no seu sonho.

Júlia disse...

a chapa de ferro espatifou...é duro o encontro com o real, né?

Climacus disse...

acho não, contanto que possamos sonhar novamente.

"Rapaz! Toda a tua vida é sempre revirada uma vez mais como um relógio de areia e ela sempre transcorrerá uma vez mais - entrementes um grande minuto do tempo, até que todas as condições a partir das quais tu vieste a ser se reencontrem uma vez mais no curso circular do mundo" (Nietzsche, nalgum lugar).

Dalva M. Ferreira disse...

Eu te odeio. Ou não, sei lá... Para onde vão os nômades?

filipe com i disse...

Paulo, realmente é impossível adaptar a imagem do reencontro do real à mortalidade, mas temo que nosso filósofo não queira o rasgamento do véu ideológico de sua República. Dalva: os nômades vão para a fonte (que nunca achei) da Liberdade. Nos veremos lá?

mauverde disse...

Putz, agora li de novo e minha alma respirou um pouco mais... deve ser por isso que me movo continuamente para fora dos limites, hahahahahaha
Adorei isso ;)

Climacus disse...

“Pergunto o que George Martin aprendeu com seus quatro mais famosos pupilos. Ele responde sem pensar duas vezes: ‘Eles me deram a coragem de ultrapassar os limites'.”{FOLHA DE SÃO PAULO, 29/4/2007}.