Foto de Jotacê Abreu
A liberdade nasceu com a magia, a poesia e o excedente de produção.
A cultura é o que dá forma e problematiza a vida comum de um povo.
Toda sociedade, portanto, deve perpetuar e se defender das criações de sua própria cultura.
Artistas ― dançarinos, artesãos, contadores de histórias, inventores, profetas ― não criam realidades sociais e, sim, possibilidades de existência.
Artistas não criam objetos, artistas criam por meio de objetos.
A criação não conclui o mundo, ela engendra mundos.
Por isso a cultura nunca estabelece um catálogo completo das atividades válidas para a sua construção.
Museus não foram feitos para levar a arte até às pessoas, mas para manter as pessoas longe da arte.
Sociedades vivem dentro de fronteiras definidas, a cultura move-se continuamente para fora delas.
Não se pode olhar para o horizonte porque ele é somente o limite daquilo que a visão alcança.
O horizonte não contém nada em si, apenas se abre para além das nossas limitações.
Nunca alcançamos o horizonte: deslocar-se em direção a ele é simplesmente descobrir novos horizontes.
Estar em um lugar significa tornar absolutos o número, o espaço e o tempo.
Ninguém sabe para onde vão os nômades.
9 comentários:
“Aqui entre nós (porquanto não ireis contá-lo aos poetas trágicos e a todos os outros que praticam a mimese), todas as obras dessa espécie se me afiguram ser a destruição da inteligência (diánoia) dos ouvintes, de quantos não tiverem como remédio (phármakon) a experiência do reencontro com o real (tynkhánei)” (Platão, Politeía, 595a).
“A imagem do reencontro com o real (tynkhánō) é eterna (aiōn), mas seria impossível adaptar essa eternidade à mortalidade. Por isso, seu autor preocupou-se em criar (poiēsai) uma imagem móvel desse reencontro com o real eterno. Ao ordenar o céu, da eternidade una e imóvel fez esta imagem do eterno que progride segundo a lei dos números, a isso chamamos tempo (khrónos).” (Platão, Timeu, 37d-e).
tynkhánō – alcançar ao acaso, reencontrar o real, realizar, produzir.
producere - pro – em frente, adiante + ducere – lançar, conduzir = conduzir em frente, fazer avançar.
caro Paulo, só falta vc me explicar pq o companheiro Platão excluía os poetai da sua República, que tal?
No romance de Bioy Casares, Morel é o poeta que faz as mesmas cenas se repetirem eternamente. Acho que ele é um tirano, mata os outros para que eles caibam no seu sonho.
a chapa de ferro espatifou...é duro o encontro com o real, né?
acho não, contanto que possamos sonhar novamente.
"Rapaz! Toda a tua vida é sempre revirada uma vez mais como um relógio de areia e ela sempre transcorrerá uma vez mais - entrementes um grande minuto do tempo, até que todas as condições a partir das quais tu vieste a ser se reencontrem uma vez mais no curso circular do mundo" (Nietzsche, nalgum lugar).
Eu te odeio. Ou não, sei lá... Para onde vão os nômades?
Paulo, realmente é impossível adaptar a imagem do reencontro do real à mortalidade, mas temo que nosso filósofo não queira o rasgamento do véu ideológico de sua República. Dalva: os nômades vão para a fonte (que nunca achei) da Liberdade. Nos veremos lá?
Putz, agora li de novo e minha alma respirou um pouco mais... deve ser por isso que me movo continuamente para fora dos limites, hahahahahaha
Adorei isso ;)
“Pergunto o que George Martin aprendeu com seus quatro mais famosos pupilos. Ele responde sem pensar duas vezes: ‘Eles me deram a coragem de ultrapassar os limites'.”{FOLHA DE SÃO PAULO, 29/4/2007}.
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