Então me digo:
“acabo de ouvir um grande sino”
pelo tamanho do objeto sonoro
vejo o que não vi
O presente ensina bem mais que projetos futuros
Assim certos cromos
em que verdes, vermelhos, lilases, azuis, matizes
que exalam aromas compostos
Os vestígios do futuro apaga-os o passado
Perguntar para quem o destino?
Acendo um fósforo molhado de ciúmes
alguém me pede um beijo ― é Carnaval
Sigo cabreiro na rua é quarta-feira
tenho uma carta dela no bolso
que vale muito mais do que nós dois
realmente vivemos
muito sós
Procurara fundar uma casa primeira
que tivesse acesso à superfície do mundo
e um contato com o negror das regiões
definidas-indefinidas-veladas-reveladas-mágicas
Uma percepção construída pode guardar além de si
princípios que lhe sejam estranhos?
Never explain, never complain
traição, inveja, cobiça, calúnia, egoísmo
verdade, luta, lealdade, humildade, solidariedade
decisão
Falar, agir, são embaixadores da vontade
portando uma mensagem fatal:
Rosenkrantz e Guildenstein
Tome-se, por exemplo, a forma:
inconsciente auto-retrato
em meio a um ambiente de complexa sofisticação
fragmentada em segmentos cambiantes
a conjuntar frêmito e traço, gesto e estrutura
tesão e terror
Sigo cabisbaixo indisciplinado
a receita vitoriana de não dizer, não transparecer
não sentir, não perder os estribos, não ligar para
o timbre do sino
a ressoar
grave
distante
Procuro-te sem nunca ter visto o teu rosto
numa poça d’água
purificada da minha tristeza que diz: “Nunca mais”
Por que foi que cheguei quando os seus desertos já estavam fechados?
O sonâmbulo com o seu infinito
bailando particular engonçado inocente
e eu creio que seremos brancos e feios
amontoados como pedras
feitas de momentos esparsos como a pontilhar o fortuito
giroflê, giroflá
Um comentário:
Hmmmm... é demais! Uma mistura fina de caetano e guimarães rosa, if you know what I mean. Você é ao mesmo tempo tangível e hermético, vai saber para que dobra do tempo-espaço a tua fala vai nos levar? Esfinjo.
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