domingo, 7 de novembro de 2010

Aldeia dos 4 Montes - Cap. 9

Aldeia dos Quatro Montes


(se desejar ler os capítulos anteriores: Cap.01 a Cap.05Cap.06Cap. 07, Cap.08)

9

Maria entrou com a tarte num tabuleiro de madeira que colocou na mesa ao lado da que Ana Luísa e António Augusto ocupavam.
- Humm… Que cheirinho!
A Ti Joaquina pegou na faca e cortou duas belas fatias.
- Ora agora, digam-me lá…
Ana Luísa cortou um pedacinho e provou.
- Minha senhora… O sabor ainda é melhor do que o aroma…
- Aqui a Ti Joaquina é uma cozinheira de mão cheia… Mas, sinceramente, ainda não conhecia esta sua especialidade.
- Pois, senhor Doutor Juiz… Só a posso fazer quando as camoesas estão no ponto certo!
Entretanto, o senhor Director e Pedro levantaram-se e pensavam ir tomar o café ao balcão…
O senhor Director fez questão de ir à mesa congratular a Ti Joaquina.
- Minha senhora… Divinal! Puramente divinal a tarte de hoje.
- Ó senhor Director… Que até fico corada de tanto me gabarem… É uma tartezinha, não tem nada que saber… Será das camoesas que este ano estão muito cheirosas.
António Augusto secundou os elogios do senhor Director e convidou o senhor Director e Pedro a tomarem com o café com eles.
Como ainda não se conheciam, o senhor Director apresentou Pedro a ambos.
- Folgo muito em conhecer o filho do senhor Salústrio. Seu pai já me tinha falado de si. Como estão as coisas em Angola?
O senhor Director aproveitou para entabular uma conversa com Ana Luísa. No entanto, o tom que Pedro usava para falar levou-a a ficar atenta.
- … e acabou por falecer, em Setembro.
- Meus sentimentos.
Por momentos, o silêncio instalou-se à mesa.
Maria apareceu com os quatro cafés. E a conversa, voltou.
- A Ti Joaquina tem uma mão para esta tarte…, referiu Pedro.
- Para mim, que estou em 4 Montes há dois dias, tem sido uma sucessão de descobertas… A torrada de pão centeio com mel… este almoço… Vocês têm aqui algo a que nós, que vivemos na cidade, muitas vezes não damos o devido valor. É uma pena que haja tão poucas pessoas a poderem usufruir destas coisas…
- Pois diz muito bem, minha senhora, inflamou-se o senhor Director. Se tivéssemos os meios para poder divulgar a excelente qualidade dos nossos produtos, certamente, 4 Montes apareceria a letras de ouro nos destinos turísticos.
- Minha senhora… Acabou de tocar num assunto que o senhor Director adora, disse Pedro.
- E faz ele muito bem… Ou não concorda?
- Quer dizer… Eu também acho que era necessário haver mais promoção e divulgação de 4 Montes. O problema não está aí… Por exemplo, onde estão as camas para receber os visitantes? Quantos restaurantes, dignos de serem indicados, existem?
- Ora…, interrompeu o senhor Director. Roma e Pavia não se fizeram num dia… Em começando a procura, a oferta teria que se ajustar…
- Pois… E qual a capacidade da oferta crescer? Quem iria investir? Mesmo na produção agrícola, o envelhecimento é galopante. Os jovens não querem ficar amarrados a 4 Montes. Acham que, aqui, as possibilidades de crescimento são diminutas.
- Mas, diga-me… Então o que o trouxe, de novo, para 4 Montes?, questionou António Augusto.
- Preciso de tempo para repensar a minha vida… E, para isso, 4 Montes é insuperável.
Ana Luísa não alcançou, imediatamente, o que Pedro queria dizer. Mas pensou que também ela estava naquela mesma situação.
- Concordo, plenamente, consigo. Eu própria estou aqui em circunstâncias similares… Felizmente, o meu bom amigo António Augusto teve a amável ideia de me convidar a conhecer esta terra. Pela forma como ele se referia a 4 Montes, já tinha percebido que algo de diferente haveria aqui… Mas a realidade consegue superar o que tinha imaginado…
- O meu convite teria sido feito mesmo que 4 Montes fosse algo menos bom… No seu caso, e se me permite, o que a Ana Luísa mais necessitava era de uma mudança de ambientes.
- Tem razão… Bem precisada estava disso.
Pedro percebeu que o rumo da conversação tinha deixado Ana Luísa pouco à vontade. Ele próprio se sentiu tocado por essa sensação de desconforto.
O senhor Director achou que estava na hora de intervir.
- Posso sugerir um digestivo para terminarmos com chave de ouro este nosso encontro?



(Estória, em capítulos semanais, aos Domingos)
Aviso: qualquer semelhança com nomes ou situações reais será mera coincidência... Esta é uma obra de ficção, resultado da pouca imaginação do autor.

2 comentários:

filipe com i disse...

O caso é que Ana Luísa começa a me deixar curioso. Já que as camoesas estão boas este ano, por que não postas fotos de alguns dos pratos e paisagens das crônicas? Ficam só no blog de Vilarandelo? mto bom isso.

angela disse...

E assim os fios vão se enredando...