sábado, 19 de dezembro de 2009

coração, bordel de quinta


poesia é uma coisa muito grande

talvez a maior que se possa fazer

não faço a poesia que posso

mas a que quero-quero

a linguagem não significa nada

a poesia tudo

o poema vem do mistério

e fétido existe no escuro

do coração

sua imagem está em cheio nas coisas

pelo amor do impuro vazio

você veio do meio do mundo

e está dentro agora

das minhas veias velas pandas

acesas

sobretudo na impossibilidade

da mulher mãe amante

ativamente no mercado triangular

ternura sexo

poesia



(Não me consuma, óleo s/t de Bruno Urbanavicius, 2009).

5 comentários:

Lídia Borges disse...

A poesia é uma coisa linda!

Um beijo

filipe com i disse...

tks Lidia, leitora atenta.

Climacus disse...

“O poeta goza desse incomparável privilégio que é o de ser ele mesmo e um outro”
Baudelaire, Multidões.

O poeta, como o profeta, narra “o que é, o que será e o que foi antes” (Homero, Ilíada, canto I, v. 70). Chega-se a esse tempo divino escapando das horas corridas, tornando-se um anônimo para a ocupada multidão {anônimo refere-se à ónoma (nome) e não à nómos (lei), mas Jacques Derrida, que sabia bem grego, percebe semelhanças entre o anônimo e o fora da lei}. Curiosamente, só se faz anônimo o poeta que povoa a memória de heterônimos. Sem isso, a multidão nos engole como um tirano que nos impõe sua própria lei. Quando contemplamos este, aquele e mais o outro, nos vemos como apenas um nessa diversidade, e no ato de nos distinguir, percebemos a alteridade em si mesma, anônima, presente como uma promessa, além do que foi, é ou será.

meu amor não me chama mais,
não me dá o que não temos,
não se espanta, não se altera em mim,
quando essa indiferença passa?

Edmar Oliveira, disse...

o fazer do verso revela o belo: "das minhas veias velas panda acesas"
achado!

filipe com i disse...

gostei desse "anônimo/fora-da-lei", mas o que me espantou é que quase deixei de fora (por vergonha, idiotia, sei lá eu) o verso que Edmar mais gostou. vai entender...