poesia é uma coisa muito grande
talvez a maior que se possa fazer
não faço a poesia que posso
mas a que quero-quero
a linguagem não significa nada
a poesia tudo
o poema vem do mistério
e fétido existe no escuro
do coração
sua imagem está em cheio nas coisas
pelo amor do impuro vazio
você veio do meio do mundo
e está dentro agora
das minhas veias velas pandas
acesas
sobretudo na impossibilidade
da mulher mãe amante
ativamente no mercado triangular
ternura sexo
poesia
(Não me consuma, óleo s/t de Bruno Urbanavicius, 2009).
5 comentários:
A poesia é uma coisa linda!
Um beijo
tks Lidia, leitora atenta.
“O poeta goza desse incomparável privilégio que é o de ser ele mesmo e um outro”
Baudelaire, Multidões.
O poeta, como o profeta, narra “o que é, o que será e o que foi antes” (Homero, Ilíada, canto I, v. 70). Chega-se a esse tempo divino escapando das horas corridas, tornando-se um anônimo para a ocupada multidão {anônimo refere-se à ónoma (nome) e não à nómos (lei), mas Jacques Derrida, que sabia bem grego, percebe semelhanças entre o anônimo e o fora da lei}. Curiosamente, só se faz anônimo o poeta que povoa a memória de heterônimos. Sem isso, a multidão nos engole como um tirano que nos impõe sua própria lei. Quando contemplamos este, aquele e mais o outro, nos vemos como apenas um nessa diversidade, e no ato de nos distinguir, percebemos a alteridade em si mesma, anônima, presente como uma promessa, além do que foi, é ou será.
meu amor não me chama mais,
não me dá o que não temos,
não se espanta, não se altera em mim,
quando essa indiferença passa?
o fazer do verso revela o belo: "das minhas veias velas panda acesas"
achado!
gostei desse "anônimo/fora-da-lei", mas o que me espantou é que quase deixei de fora (por vergonha, idiotia, sei lá eu) o verso que Edmar mais gostou. vai entender...
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