quarta-feira, 18 de junho de 2008

anatomia de um crime com 180 milhões de réus



Um crime hediondo nos foi servido em rede de televisão nacional, um crime imperdoável: 3 vidas ceifadas por motivo fútil e a constatação de que a nossa sociedade civil, na vigência aparente da democracia, conseguiu o que nenhuma das lamentáveis ditaduras precendentes havia alcançado, a saber, a privatização do exército brasileiro.

Acompanhe os fatos: 11 militares estão sendo acusados de ter entregue 3 rapazes de uma favela do Rio de Janeiro aos bandidos da outra favela que os trucidaram sem dó nem piedade. O crime dos rapazes? Nenhum. Interpelados por uma equipe de militares chefiada por um tenente, os rapazes ousaram não gostar de uma revista, a famosa 'geral' na entrada da favela. Claro, um PPP (preto, pobre, periférico) de celular na cintura (volume suspeito), não pode reclamar de levar 'esculacho' de 'gambé'. Ou pode?

Levados ao batalhão, o capitão recusa-se a aceitar o suposto desacato à 'otoridade' que o tenente alegava e manda soltar; indignado por ter sido desautorizado na frente dos 'subs', o tenente resolve levar os garotos para a favela vizinha a fim de que eles tomassem um 'apavoro'. Os guardas da favela vizinha, que recebem o "presentinho" das mãos dos militares, aplicam sem pestanejar a lei da pedra: tá na comunidade errada sem autorização, 'passa o cerol'.

O chefe do tráfico, o 'patrão', percebe a cagada: os meninos não tinham feito nada, mas já era tarde, um deles chega à sua presença já morto depois de ter levado uns 'sacode' dos 'soldados'. Que fazer? Aos costumes: mata os dois restantes e 'desova' no lixão ao lado, afinal, favelado morto só vira notícia em jornal acima de um número mágico: 5 (ou 6, depende da pauta do dia). Mas ele não contava com a Rede Plim-Plim -- e aí começa o verdadeiro circo da bandidagem graúda do Brasil varonil.

O Exército Brasileiro estava na favela para escoltar um projeto político (a PPP de rico, parceria público-privada): um bispo-deputado-companheiro, da televisão-partido-religião do bispo Chuta-a-Santa, estava caiando umas casas da favela pra sair bonito na foto eleitoreira, candidato que é ao posto de alcaide da Cidade Maravilhosa. Por que isso era tão importante? O companheiro-presidente-molusco ainda está cabreiro com a Rede Televisa... ops!, Plim-Plim, que pôs no horário nobre da TV (no jornal e na revista quase ninguém lê, não tem 'pobrema') sua roupa suja no já distante episódio do mensalão e os 40 ladrões.

Vai daí que a Rede Bobo percebe na tragédia anônima uma janela de oportunidade e começa a bater bumbo em cima da notícia que, deixada a si mesma, jamais ultrapassaria a barreira do rodapé da página policial. Entendeu porque eu, você, a torcida do Flamengo e do Corinthians ficamos sabendo de tudo isto?

Como disse o filósofo nas horas vagas e traficante nas outras, Fernandinho Beira-Mar:

"TÁ TUDO DOMINADO!!!!!!!!!"

Um comentário:

Júlia disse...

e a torcida do corinthians!!!!!!!!!