Arqueologia dos restos
do meu avô:
na ilha mítica
do amanhecer
ouço
a tosse seca
no comércio diário
de brancos, machados,
rosas e encarnados
Sobre-humano
nas brenhas
da Bessarábia foinquinita
onde serviu o exército
penumbra
de civilizações particulares
cozinhas, terraços e pátios
o alambique reluzente
o lagar onde abelhas
mal podem esperar
pelo vinho
Suspenso
ao lado da janela
que dá para o pomar
o barômetro
moça para fora significa bom tempo
o rapaz de calças verdes, chuva e frio
um tipo de cotidiano
tão frágil
que aprendeu a sobreviver
com as lindas refugiadas
Alepo, Smirna e Massinia
gigantescas, suas mãos amassam
côdeas de pão
suas mãos têm vagar
come
com todo o tempo do mundo
para amaldiçoar os jesuítas
nunca, jamais,
saía à rua
sem chapéu
a lhe cobrir a cabeça
nem esquecia o Patativa
“o choro da sanfona
todo sertanejo sente”
Alegorias
das 4 estações
uma para cada parede
da sala de jantar
homem obrigado
a sair de si
mesmo
em contato com as
coisas
chorou feito criança
no dia
que o touro
desembestado
atravessou a rua num carreirão
matando
seu cavalo mais querido
2 comentários:
Adorei Filipe!Você escreve muito bem!Continue assim!
Cara, eu adorei isso.
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