quinta-feira, 26 de junho de 2008

ONIÓGRAFO

Arqueologia dos restos
do meu avô:

na ilha mítica
do amanhecer
ouço
a tosse seca

no comércio diário
de brancos, machados,
rosas e encarnados

Sobre-humano
nas brenhas
da Bessarábia foinquinita
onde serviu o exército

penumbra
de civilizações particulares
cozinhas, terraços e pátios
o alambique reluzente
o lagar onde abelhas
mal podem esperar
pelo vinho

Suspenso
ao lado da janela
que dá para o pomar
o barômetro
moça para fora significa bom tempo
o rapaz de calças verdes, chuva e frio
um tipo de cotidiano
tão frágil
que aprendeu a sobreviver
com as lindas refugiadas

Alepo, Smirna e Massinia

gigantescas, suas mãos amassam
côdeas de pão
suas mãos têm vagar
come
com todo o tempo do mundo
para amaldiçoar os jesuítas

nunca, jamais,
saía à rua
sem chapéu
a lhe cobrir a cabeça
nem esquecia o Patativa
“o choro da sanfona
todo sertanejo sente”

Alegorias
das 4 estações
uma para cada parede
da sala de jantar
homem obrigado
a sair de si
mesmo
em contato com as
coisas

chorou feito criança
no dia
que o touro
desembestado
atravessou a rua num carreirão
matando
seu cavalo mais querido

2 comentários:

Siddartha disse...

Adorei Filipe!Você escreve muito bem!Continue assim!

mauverde disse...

Cara, eu adorei isso.