domingo, 15 de junho de 2008

O Maiakovski do Jardim Casqueiro


As 3 Regras de Ouro para sobreviver no meio cultural Underground:

1. o underground NÃO é o contrário do mainstream (embora berre o oposto)
2. a massa não despreza nem o underground e nem o mainstream (ambos são bem definidos e a massa amorfa ADORA o que não é espelho)
3. nunca, nunca mesmo, vá sem claque, bando ou matilha se apresentar num palco udigrudi (off e on Broadway, a brodagem é fundamental)

Encontrei um escritor que admiro no dia em que ele lançava seu novo livro num centro cultural bem simpático, na periferia da Matrix. Apresentados por amigos comuns, começamos um papo animado sobre... literatura brasileira atual. Assunto cascudo, deprê.

Escrevo para 300 leitores, cara, ele me confessa, são sempre os mesmos e o pior: eles estão envelhecendo. Conta que passou sete anos de pastor para publicar seu primeiro livro; conseguiu finalmente na onda do boom de novos escritores dos anos 90 (a mini-retomada literária) e afirma que essa onda já morreu na praia.

Diz que costuma entrar em grupos de discussão de literatura na internet e que as comunidades têm no máximo 50, 80 participantes. Não chegam nem perto dos que se reunem em grupos de auto-ajuda aos possuidores de pelos brancos no suvaco e até música clássica e xadrez dão banho nos amantes das letras.

Políticas de fomento, editores sócios de bancos, agentes culturais e até os escritores medalhões da geração anterior à dele que não o ajudaram no começo, são malhados na conversa regada a água mineral e decepção. Mas ele sabe, ou acredita, que, na geração dele, está no grupo restrito de "um ou dois que vão ficar".

É isso: ele está lançando um livro sem divulgação, sem distribuição, sofre de hipertensão e pena pra pagar o condomínio, mas tem uma satisfação íntima -- vai "ficar". Falamos en passant da literatura russa; a Rússia, esse país que foi modernizado a ferro e fogo por tiranos como Pedro e Catarina e, last but not least, forjado por GERAÇÕES de grandes, médios, pequenos e inesquecíveis poetas, dramaturgos, artistas plásticos, cineastas, músicos e romancistas.

Fim do papo, alguém lê o epílogo do livro do meu novo "amigo". Lá está a advertência direta e reta aos Maiakovskis do Jardim Casqueiro: "não me mandem manuscritos".



Um comentário:

Dalva M. Ferreira disse...

Ô tristeza. Bem dizia um ex subalterno meu: "em terra de cego, quem tem um olho é expulso". Bem... eu sou sua leitora, de carteirinha. Sei que não refresca, ainda mais que eu queria mesmo é que você lesse meus manuscritos!