domingo, 31 de janeiro de 2010

conversa de café - O mistério das alheiras

- Boa tarde, Dona Felisberta.
- Boa tarde. O mesmo de sempre?
Ainda eu não tinha acabado de me sentar, quando entram duas “senhorecas”, conversando animadamente.
- …e então ela chama-me para ir ver o fenómeno! Lá fui eu…
- Pois olha que eu era capaz de não ir!
- Pois… mas lá fui eu. Abriu a porta e não é que era verdade? Lá estavam as alheiras todas esparramadas no chão que até parecia uma estrumeira!
- Todas??
- Bem… todas, todas não, que quando olhei para as varas ainda vi umas duas dúzias penduradas… Uma aqui, outra acolá…
- Que estragação!
- Tanto trabalhinho tivemos! Um dia inteiro, meia dúzia de mulheres para encher quarenta dúzias e ver aquilo assim… Até me deu uma dor de alma!
- Mas… foi das tripas ou?
- Qual quê… quais tripas! Cá para mim, aquilo foi mau-olhado que lhe deitou a Joaquina, que ela nem lhe pode ver um farrapo novo. É cá uma invejosa! Rais parta a mulher!
- Ora… Ora! E tu achas que o mau-olhado agora deita as alheiras abaixo, é? Tás é maluquinha! Ora, vejam lá… Não me digas que a tua prima também acredita nessas patranhas?
- Pois olha que quando lhe disse que só podia ser servicinho de alguém que lhe queria mal, não é que ela chegou logo lá?? Olha que há gente capaz de tudo!!
- Eu nessas coisas não acredito! Isso é que era bom! Tás-me a ver a mim a acreditar que alguém pode deitar um mau-olhado e as alheiras a começarem a cair das varas? Tem mas é juízo!
- Pois é… não acreditas nessas coisas? Olha que estes olhos já viram muita coisa! Sabes quem é a bruxa da Carvalheira? O que é que lá terá ido fazer a Joaquina a semana passada?
Eu quando vou à bruxa é porque quero alguma coisa!
- E eu é que sei o que é lá vão fazer as pessoas? Olha… eu é que não vou lá! Nem a essa nem a outra qualquer! Vade retro…
A Dona Felisberta, que estava a lavar uma chávenas, virou-se para elas.
- Eu estou como diz o galego: Não acredito em bruxas… pero que las hay, hay!
- Tás a ver? Até aqui a Dona Felisberta sabe que há destas coisas.
- Vá… vá! Não me meta nessa alhada que eu não quero confusão com ninguém. Olhe… Já agora, se mal pergunto... E só caíram as alheiras? A sua prima não fez chouriças pretas?
- Que é quer dizer?
- Oh, mulher de Deus! As chouriças de sangue! Os palaios!
- Pois, olhe que fala bem! Realmente… eu não vi nenhuma no chão!
- Oh, Diabo! Esse serviço é poderoso! Capaz de fazer deitar abaixo as alheiras e deixar escapar o resto, é obra!!
- Eu não te dizia?! Às tantas foi das tripas…
- Pois… poderá ser! Mas a mim ninguém me tira da cabeça que a Joaquina é má rês. Rais partam a mulher!!

6 comentários:

.Justlow disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
.Justlow disse...

Ótimo poste amei kkkkkkkk, gostei dessa parte -- Qual quê… quais tripas! Cá para mim, aquilo foi mau-olhado que lhe deitou a Joaquina, que ela nem lhe pode ver um farrapo novo. É cá uma invejosa! Rais parta a mulher! muito bom !
bjos ;*

angela disse...

Um conto gostoso de ler, essa conversa toda de mau-olhado e inveja sempre ronda os fracassos e os sucessos. Agora, que é uma pena perder tanto trabalho assim isso é . Aceitar que não temos controle sobre isso é um terror maior que acreditar em mau-olhado.
beijo

filipe com i disse...

ora messa, caem as alheiras, mas sobram os palaios e as morçelas -- aí coisa há!!!

José Doutel Coroado disse...

grato pelos coments!
abs

Rocio disse...

Eu acho que vendo as fotos e lendo essas palavras só me lembram stardes aconteceram na minha infância, com minha mãe nos cafés de Tatuape